terça-feira, 12 de junho de 2012

Considerações de um Gato e sua Cartola

Em uma tarde ensolarada, um Gato e sua Cartola resolveram sair para um passeio vespertino.

De mãos dadas, observando a Dança da Chuva das Gaivotas em frente ao Monumento Nacional dos Berguelotes, perceberam finalmente o quão mundano o mundo é.

Voltaram para casa às cinco em ponto, batendo o ponto dos cinco condes desfigurados que viriam para tomar chá de boldo e espanando as últimas metafísicas poeirentas do busto do Rei Salomão.

Enquanto comiam bolinhos de limão com açúcar e bebiam cogumelos doces, surgiu o assunto que tanto os afligia:

— Já reparou em como o nosso jardim anda preto e branco?  —  perguntou a Cartola, acendendo um cigarro.

— Ora essa, eu pensei que andassem com muletas — respondeu o Gato, erguendo uma sobrancelha  —  Você não engessou ou girassóis e as violetas na semana passada?

— Engessei  —  respondeu a Cartola, soprando pequenos anéis coloridos de fumaça  —  Acontece que eles perderam a cor.

— Sim —  disse o Gato, bebendo um gole de seu chá pensativamente —  Pelo menos as flores sem cor têm perfume.

Silêncio.

— O que será que pensa uma borboleta preta?

...

Um comentário:

  1. certamente uma borboleta preta pensa em cotas nas flores com mais pólen. Contudo, há que se observar toda a demanda de jardineiros operários deixados de lado, sem sequer um ou dois goles de água doce para amparar a saliva quase nula. Uns pretendem apenas dizer o que não se sabia ao certo como dizer, já outros, preferem o caos do silêncio, por simplesmente não suportar ouvir. Não quer dizer que as flores não devam mais ser coloridas, tampouco que devam migrar para jardins suspensos, como os da Babilônia. Certo mesmo é o sorriso, e esse, a Cartola, o Gato e as borboletas pretas deverão concordar, é encantador.

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