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quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Escrita corrida: Pensar.
Madrugada adentro, os pensamentos surgem.
Aparecem tímidos por entre as cortinas de veludo dos sonhos.
Estão nus, quase inconscientes.
Vestem-se, pois, com os mantos coloridos das palavras: tornam-se, eles, elas próprias.
Existem uma existência recortada, costurada a esmo com a frágil linha das letras e a agulha fina dos parágrafos.
São nada menos que uma colcha de retalhos: fragmentos únicos amarrados em uma imensa e colorida colcha de retalhos.
E, lá, neste pano recém-formado, transformam-se num todo.
Existem, então, como unidade - ainda que artificial.
São todos um só.
Riem, choram, surpreendem-se - nem se lembram, agora, de suas existências inconscientes e individuais.
(E são felizes por isso.)
Chave de palavras:
Blá blá blá,
Escrita corrida,
Palavras,
Pensamento
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Sobre Pensamentos Livres e Ideias Intraduzíveis
Um mundo de ideias passeava pelo meu cérebro.
Pensamentos dançantes saracoteavam sem pudores por todos os lados, despidos de toda e qualquer regra gramatical ou coerência verbal.
Eram simples ideias existindo, pulsando, dançando a Macarena.
Pensamentos intraduzíveis vestidos de piratas jogando dominó.
Pensamentos apalavreados bebendo Dinamites Pangalácticas e cantando Roberto Carlos.
Pensamentos livres.
Pensamentos pura e simplesmente livres.
Tive então a ousadia de sentar-me à frente do computador para escrevê-los.
Forcei-os a parar, enfileirei-os, etiquetei-os.
Tentei persuadi-los a se submeterem à gramática, às letras, às palavras.
Mas eles eram livres.
Eram meus pensamentos livres e minhas ideias intraduzíveis.
Se os explicasse e os transformasse em palavras eles não mais seriam meus, não mais seriam livres.
Acabariam por se tornar apenas outra idéia jogada na prateleira do supermercado de ideias, comum, barata e empoeirada.
Não teriam mais a menor graça!
Resolvi então deixar que eles continuassem a fazer o que quer que um pensamento livre gosta de fazer com uma ideia intraduzível altas horas da madrugada e ir procurar por vida inteligente na mancha verde de mofo que surgiu no pedaço de pizza esquecido na geladeira desde o mês passado.
...
Chave de palavras:
Considerações,
Idéia,
Palavras,
Pensamento
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Eu quero...
Eu quero alguma coisa doce feito brigadeiro caseiro pra se comer de colher.
Alguma coisa que tenha cheiro de café fresquinho servido na hora e tato de plástico-bolha de televisão nova.
Eu quero uma coisa que seja coisa bonita como o por-do-sol em Águas, aconchegante como um chá quente no inverno, deslumbrante como um céu estrelado e grande e pequena como o próprio Universo.
...
Depois da liquidação de verão as prateleiras do Mercado das Almas estão todas vazias.
Alguma coisa que tenha cheiro de café fresquinho servido na hora e tato de plástico-bolha de televisão nova.
Eu quero uma coisa que seja coisa bonita como o por-do-sol em Águas, aconchegante como um chá quente no inverno, deslumbrante como um céu estrelado e grande e pequena como o próprio Universo.
...
Depois da liquidação de verão as prateleiras do Mercado das Almas estão todas vazias.
Chave de palavras:
Palavras,
Pensamento,
Pseudo-poemas
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Um sonho de memória alterada
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Noite estrelada - Vincent van Gogh |
As estrelas tem cor do gosto da água fria.
Sinestesia.
Da crista de uma onda de vapor inebriante posso ver o estrondo das ideias se liquefazendo e correndo em cascata pelos meus ouvidos.
Tudo é amarelo-ouro e alguns poucos grunhidos.
Palavras desconexas passeiam despreocupadamente por um deserto rosa e vermelho, pouco interessadas em se fazerem entender.
Uma árvore escura contra o céu de estrelas repassa toda a sabedoria humana para quem puder o acaso compreender.
Todas as perguntas para todas as respostas de todas as perguntas sapateiam graciosamente no salão de festas do meu cérebro, lutando ferozmente para saírem todas juntas, de uma só vez.
O som então se perde no labirinto confuso da cabeça ébria e trava na garganta, veste um esvoaçante manto de fumaça e mostra toda a completude do mundo em sua mísera pequenez.
...
Em um sonho de memória alterada encontrei os sentidos universais do cosmos e do que poderia vir a ser Deus.
No momento em que acordei, porém, tudo era cinza e fogo e eu não fazia mais ideia de quem eram os filisteus.
Chave de palavras:
Brisa,
Considerações,
Pensamento
Local:
São Paulo, Brasil
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Ira Divina
Jennifer Coll, da cidade de Loveland no estado do Colorado foi atingida, enquanto dirigia por uma estrada rural e rezava suas orações matinais, por uma marreta voadora.
Imagino que, estadunidense que é, Jennifer seja protestante. Assim, provavelmente rezava para o deus tríplice Jeová - que a esta altura do campeonato já se desvinculou de seu próprio nome e é conhecido simplesmente por Deus-Com-Letra-Maiúscula - fervorosamente.
...
![]() |
Jennifer Coll |
Como todos sabem, Jeová sempre foi meio megalomaníaco. Foi sua necessidade de conquistar cada vez mais fiéis que fez com que a Grande Batalha Dos Deuses Antigos começasse.
Desde os tempos imemoriais os deuses eram deuses de um povo ou região, e se contentavam tranquilamente em terem como adoradores os humanos pertencentes àquele povo ou àquela região. Uma vez ou outra um novo deus surgia de algum lugar obscuro e ermo e tomava o lugar do mais antigo através de pequenas batalhas ou jogos de sorte, e tudo acontecia como devia acontecer.
Até, é claro, a chegada de Jeová.
Fazendo uma excelente leitura de conjuntura, Jeová percebeu, há uns dois mil e poucos anos, que seus dias como deus patrono de uma nação específica estavam contados. Utilizando muito bem o dom da previsão do futuro próximo tipicamente divina ele viu que a humanidade estava se desenvolvendo cada vez mais, expandindo-se por locais antes inimagináveis, intercambiando ideias entre os povos, e, em breve, não só ele, mas também todos os deuses não teriam mais espaço para seus embates. O deus que quisesse sobreviver a estes novos tempos deveria se adaptar. E, em especial, deveria ser deus não mais exclusivamente de um povo ou região, mas deus de todos.
Com a estratégica jogada dupla de encarnar no mundo terreno assumindo o papel de seu próprio filho, tornando-se ele mesmo três e um ao mesmo tempo, acumulando assim poder e maleabilidade, e de associar-se deliberadamente a populações tipicamente expansionistas, possibilitando que a crença em si fosse disseminada por várias partes do mundo, Jeová conseguiu, no decorrer dos últimos milênios, vencer quase que absolutamente a batalha divina por fiéis.
Obviamente, esta vitória de Jeová - ou do Deus-Com-Letra-Maiúscula - não é reconhecida por nenhum outro deus. Deuses são, por excelência, egocêntricos e arrogantes e todos os que sobreviveram ao esquecimento, especialmente os que foram rebaixados à categoria de Mitos, ainda hoje buscam de algum jeito iniciar uma revanche. Dizem que o mais rancoroso de todos ainda é Thor, Senhor dos Trovões e proprietário da lendária Marreta Mjölnir, que nunca se conformou com o fato da barba de Jeová ser muito mais adorada do que a sua.
A pobre Jennifer Coll, senhora tranquila, fiel do Deus-Com-Letra-Maiúscula, foi apenas mais uma vítima destes inescrupulosos seres.
Com a estratégica jogada dupla de encarnar no mundo terreno assumindo o papel de seu próprio filho, tornando-se ele mesmo três e um ao mesmo tempo, acumulando assim poder e maleabilidade, e de associar-se deliberadamente a populações tipicamente expansionistas, possibilitando que a crença em si fosse disseminada por várias partes do mundo, Jeová conseguiu, no decorrer dos últimos milênios, vencer quase que absolutamente a batalha divina por fiéis.
Obviamente, esta vitória de Jeová - ou do Deus-Com-Letra-Maiúscula - não é reconhecida por nenhum outro deus. Deuses são, por excelência, egocêntricos e arrogantes e todos os que sobreviveram ao esquecimento, especialmente os que foram rebaixados à categoria de Mitos, ainda hoje buscam de algum jeito iniciar uma revanche. Dizem que o mais rancoroso de todos ainda é Thor, Senhor dos Trovões e proprietário da lendária Marreta Mjölnir, que nunca se conformou com o fato da barba de Jeová ser muito mais adorada do que a sua.
A pobre Jennifer Coll, senhora tranquila, fiel do Deus-Com-Letra-Maiúscula, foi apenas mais uma vítima destes inescrupulosos seres.
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Thor, prestes a jogar sua marreta em Jennifer: "Minha barba é muito melhor do que a dele, bitch!" |
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Chave de palavras:
Casos da Vida Real,
Deuses,
Pensamento
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
O Caos (ou Pensamentos Sobre o Pensar)

Então, subitamente, com um vendaval de pensamentos, este ser pensante descobriu que pensava. Pensativamente, pensou ser interessante pensar sobre o fato de que realmente pensava, e quais pensamentos pensaria ao pensar.
Pensamentos sobre o próprio pensar foram pensados e repensados, até que, outrora apenas pensamentos pensados pelo ser que pensava, tais pensamentos pensaram, agora, que poderiam, por quê não?, pensar por si próprios os seus próprios pensamentos, mesmo antes tendo sido apenas pensamentos pensados e repensados por aquele primeiro ser pensante que descobrira pensativamente que podia pensar.
E, assim, os pensamentos pensados por aquele primeiro ser pensante que descobriu que pensava passaram, então, pensando por conta própria, a serem eles próprios novos seres pensantes que, por sua vez, descobriram que pensavam, tornando-se, desta forma, pensadores de novos pensamentos que pensariam, após alguns pensamentos, também eles por si próprios, tornando-se eles mesmos novos seres pensantes pensadores de novos pensamentos que seriam a origem de novos seres pensantes que pensariam novos pensamentos e assim infinitamente, até o pensar, agora sem nenhum rastro de sua verdadeira origem pensante, sublimar-se em pensamento e voltar pensativamente a ser apenas um pensamento pensante que descobriu que pensava.
...
Chave de palavras:
Brisa,
Caos,
Pensamento
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