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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Conversa Aleatória Comigo Mesma #1

- Cara, tô de saco cheio.

- Saco cheio de quê?

- De qualquer coisa aleatória, eu acho.

- E como você sabe que esse saco está, de fato, cheio?

- Porque sei que ele não está vazio.

- E como você sabe que ele não está vazio?

- Porque acontece que ele está cheio.

- E se o saco estiver cheio de vazio, e vazio de cheio?

- Isso de fato iria incomodar-me muito mais.

- Pois então?

- Tanto faz.

- E agora?

- Agora nada.

- No mar?

- Em barris de cerveja.

...

Não se esqueçam de suas lunetas, os guarda-chuvas cintilantes andam muito convidativos por estes dias.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Uma Conversa Qualquer Comigo Mesma


- Oi.

- E aí?

- Faz tempo que a gente não conversa, né?

- É. Culpa sua. Eu estou sempre por aqui.

- Eu sei. Eu é que muitas vezes não estou.

- Está, sim. Só não percebe. Hoje, você percebeu.

- Percebi. E demais. O grito ainda me está sufocado na garganta.

- É melhor não deixá-lo sair.

- É um sentir como se sentisse todas as coisas do mundo, sabe? Como se por alguns instantes eu me visse amarrada ao Vórtex da Percepção Profunda e à noção do infinito, da verdade absoluta e de toda a minha insignificância diante disso tudo me fosse revelada.

- Sua carta é a da Lua. Sua função é sentir.

- Mas também é pensar.

- É pensar no sentir e sentir no pensar. Daí a originalidade. Daí a contradição.

- Mas eu não quero mais jogar esse jogo de oposições . É dolorido. É trabalhoso. É inútil! Até que ponto isso tudo o que racionalizo sentindo e sinto racionalizando não passa da minha imaginação? Você é apenas a minha imaginação. O que disso tudo seria real, então? O que não seria? O que seria, de fato, o real, se não mera percepção individual ou pura alucinação coletiva?

- Você realmente acha que esses pensamentos vão te levar a alguma conclusão?

- Não, não vão! Mas o que posso fazer, se sinto e penso e sinto o que penso e penso no que sinto dessa forma tão ridiculamente adolescente e ultra-romântica?

- O melhor, por ora, é seguir o fluxo do rio e procurar não se enroscar nas raízes à margem.

- Isso é tudo o que tem pra me dizer?

- O que você acha?

- Desanimador. Esperava mais de você.

- Você faz esse discurso dramático todo como se não sentisse, lá no fundo, um júbilo melancólico e doce, agudo e doentio, enquanto mergulha neste turbilhão de emoções e racionalizações.

- Ah, puxa. Você sabe como me convencer.

- Conheço-lhe melhor do que você mesma.

- Sendo meu subconsciente, eu não esperava menos.

- Desta forma, que tal uma bela bebedeira?

...

:P

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma vida aos brindes simples das coisas!

Quando você perceber que as únicas coisas que sobraram no seu bolso no fim das contas são um maço de cigarros amassado e duas tampinhas de cerveja, saiba que chegou a hora de voltar a caminhar a esmo pelas ruas e caçar lagartixas psicodélicas.

...

Um feliz aniversário para mim!
(Porque, afinal, hoje é dia de RÓQUE, bebê.)


\m/,

terça-feira, 19 de junho de 2012

Encontro Com A Pequena Eu-Mesma De Nove Anos

Encontrei-me com a pequena eu-mesma de oito ou nove anos por estes dias. A garotinha gorducha que escondia os olhos tímidos por trás de uma grossa franja castanha observou-me com interesse.

- Então quer dizer que a gente realmente conseguiu superar o colégio? - ela/eu me perguntou, erguendo as sobrancelhas e dando um suspiro de alívio.

- Superamos isso e muito mais - respondi, abraçando-a/me.

Sentamos de pernas cruzadas no tapete da sala e conversamos por horas a fio, comendo leite condensado com chocolate granulado e ouvindo as músicas da fita do Brink Book.

- Mas, me diz, você tá feliz? - ela/eu me perguntou entre uma colherada e outra do melhor doce do universo da minha infância.

- Tô, querida eu-mesma. Continuo sem ter a mínima ideia do que diabos vamos fazer da vida daqui pra frente, mas tô feliz.

- Ah, relaxa. Eu também não conseguia e, veja, você é a prova viva de que isso não importa muito, no fim das contas.

Brincamos despreocupadamente a tarde toda. Inventamos histórias mirabolantes para encenar com nossas Barbies, desenhamos figuras psicodélicas com giz de cera colorido e tomamos Coca-Cola até as nossas barrigas doerem.

A pequena eu-mesma de nove anos foi embora surpresa por descobrir que havia mudado tanto.
A atual eu-mesma de vinte e três anos foi embora surpresa por descobrir que, passados tantos anos, nada realmente mudou.

...

(:

Pequena Eu-Mesma na época em que achei
que seria uma ótima ideia cortar sozinha
minha própria franja.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Devaneios de Olívia Rey



Três horas da manhã. Olívia revirava-se nos lençóis sem conseguir dormir. Pensamentos desconexos assaltavam-lhe a mente, um mais peculiar que o outro, um mais absurdo que o outro. Um mais doce que o outro.

- Maldita insônia! - pensou, levantando-se e dirigindo-se à varanda.

Acendeu um cigarro. Ridículo pseudo-refúgio da timidez e do nervosismo. Mas, e daí? Do seu esconderijo no milésimo andar podia espiar sem ser notada toda a vida noturna e secreta de uma cidade insone, incapaz de parar, incapaz de descansar, incapaz de...

- Assim como eu - pensou, dando uma longa tragada no cigarro.

O céu e a terra haviam invertido os papéis, ela pensava. As estrelas haviam caído e se alojado nas lâmpadas elétricas que se estendiam pelo horizonte, enquanto a Lua brilhava sozinha no firmamento, minguante e Capricorniana.

As frustrações todas de sua curta vida burguesa dançavam tango com os momentos de êxtase e felicidade num compasso dolorido e envolvente, paranóico, assustadoramente delicioso.

Passou a pensar em tudo o que poderia ter sido e não foi, em tudo o que não poderia ter sido e foi, em tudo o que poderia ser e de fato foi.

Deu outro longo trago no cigarro e apagou-o no cinzeiro de cristal falso. Olhou para o céu e desejou viver uma grande aventura, digna de livro de ficção. Queria viver algo pelo qual pudesse ser lembrada, algo que lhe permitisse ter histórias verdadeiras para contar. Algo relacionado a piratas espaciais, magos da idade das trevas ou até Terríveis Bestas Vorazes de Traal.

Será que ela estava no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa? Ou será que foi justamente o contrário o que aconteceu?

Ninguém nunca saberá.

O que se sabe é que alguma coisa certa estalou em seu cérebro com um ruído errado e Olívia Rey nunca mais foi - ou pôde ser - a mesma.

...

(Olívia Rey é minha única personagem que não tem biografia definida. Sua vida sempre foi tipicamente paulistana, tipicamente classe-média, tipicamente típica. Ela só existe em seus devaneios - que, no fim, na verdade também são os meus.)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Gladys Wellgood

Fiquei com vontade de reformular as biografias das minhas personagens. Aqui vai a da Gladys, a "quase quarentona bêbada norte-americana que mora num trailler e tem uma penca de filho" XD


Esta aí em cima chama-se Gladys Wellgood. No auge da decadência dos seus trinta e nove anos, mora há quase quinze num trailler no Texas, bem próximo à fronteira com o México, e tem sete filhos; cinco meninos e duas meninas.

Gladys nasceu em uma típica família da periferia norte-americana. Seu pai era revendedor de carros - adquiridos não necessariamente de forma lícita - e sua mãe vendia cosméticos no bairro. Teve dois irmãos, dos quais um foi assassinado por policiais na semana em que completaria dezessete anos e o outro trocou de sexo e casou-se com o pastor da igreja anglicana que sua família costumava frequentar.

Ela odiava seu pai, que batia em sua mãe, e odiava sua mãe, que passava a maior parte do tempo completamente alterada pela heroína. Tinha especial apreço pelo irmão mais velho, que morreu, e ignorava totalmente o mais novo, que hoje atende pelo nome de Guinevere.

Quando tinha por volta de catorze anos, seu pai um dia chegou completamente embriagado em casa e partiu para cima dela. Sua mãe gritou, os dois estapearam-se, Gladys jogou uma torradeira na cabeça de seu pai, sua mãe desmaiou e ela fugiu de casa no mesmo dia. Passou dois dias perambulando pelas ruas da cidade bebendo qualquer coisa alcoólica que caísse em suas mãos e fumando tudo o que seus ainda jovens pulmões pudessem aguentar. Voltou quando o dinheiro acabou, mas apenas porque sua mãe, tendo-a encontrado no meio-fio de uma loja de conveniências, implorou de joelhos para que voltasse para casa.

Alguns meses depois, durante a comemoração junkie do seu aniversário de quinze anos na casa de alguns amigos, conheceu Abelardo Castañed, um mexicano charmoso de uns vinte e seis anos. Sua mãe acabara de ser internada em uma clínica para reabilitação e seu irmão morrera há apenas algumas semanas. Resolveu então fugir com o mexicano naquela mesma noite. Nada havia mais para ela naquele lugar.

Gladys morou com Abelardo em seu apartamento por volta de um ano, até engravidar de seu primeiro filho, Evo. Alguns meses após o nascimento do filho, o mexicano um belo dia saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou.

Começou a trabalhar como garçonete em uma lanchonete de estrada para sustentar a si, a casa e ao filho. "Pelo menos tenho um lugar onde morar", obrigava-se a pensar.

Cerca de um ano e meio depois, durante seu expediente de trabalho, conheceu Isaiah Johnson, um sério corretor da bolsa de valores de vinte e cinco anos de idade. Saíram algumas vezes, ele lhe segredou que a amava e que gostaria de criar o filho dela como se fosse seu e casaram-se pouco tempo depois. Ela engravidou após alguns meses de sua segunda filha, a quem deu o nome de Nicole, e eram felizes assim. Havia-se passado cerca de apenas dois anos de matrimônio, porém, quando Isaiah foi assassinado durante um assalto, deixando Gladys sozinha mais uma vez.

Precisando sustentar mais uma pequena boca, Gladys deixava agora seus filhos com Dona Martina, uma senhora que ia quase se decompondo de tantos anos que carregava nas costas, e trabalhava incessantemente em um restaurante barato na borda da cidade. Foi durante este período que começou a beber em demasia e a experimentar psico-ativos mais intensos. Não aguentava ficar tanto tempo longe dos filhos, não aguentava precisar atender clientes estúpidos em troca de alguns trocados, não aguentava aquela merda de vida em que tinha se enfiado. Dona Martina uma vez dissera que aquilo era castigo de Deus pelo seu irmão ter renegado quem era e pervertido um santo homem da Igreja. Levou um soco na boca por isso.

Uma noite, durante seu expediente, alguns dias depois de uma mulher mais velha rodeada por dois homens robustos e mal-encarados aparecer em sua casa dizendo-se esposa legítima de Isaiah e reivindicando o apartamento como seu, Gladys conheceu um homem muito galante e simpático chamado Robert Davish. Ele havia acabado de comprar um trailler, e era absolutamente bonito, gentil e atencioso. Passaram a encontrar-se algumas vezes e, depois que a dita esposa de Isaiah ameaçou-a de morte para que saísse de seu apartamento, resolveram casar-se e mudar para o trailler de Robert. Com ele, Gladys teve seu terceiro filho, Henry. Moraram juntos durante quatro longos e felizes anos, até que Robert descobriu-se gay. Deixou um bilhete dizendo que gostava muito de Gladys, mas que amava outra pessoa. Deixou o trailler e alguns maços de dinheiro para ela e foi embora com o garoto que vendia jornais.

Por dois anos Gladys morou sozinha no trailler com seus três filhos, fazendo bicos aqui e ali para sustentar a família, exagerando na quantidade de álcool e entorpecentes que ingeria e amaldiçoando aquele Deus filho-da-puta que a fazia pagar pelos pecados dos outros.

Nesta época, conheceu Jean Pierre Chevalier, um francês galanteador que prometera levá-la e a seus três filhos para morar na França assim que suas finanças se estabilizassem. Nunca dissera exatamente em que trabalhava, porém. Casaram-se e passaram a morar juntos no trailler que fora de Robert, "só enquanto as finanças de Jean Pierre não se estabilizassem". Mas as finanças nunca se estabilizaram.

Quando Gladys engravidou novamente, após alguns anos de casamento, Jean Pierre achou que o filho não era dele e partiu para cima da esposa com uma garrafa quebrada. Ela e seu filho mais velho atacaram-no com vassouras e pás até deixarem-no desacordado. No dia seguinte, o francês bom-de-bico foi embora para nunca mais voltar. Seu filho que já nasceu sem pai foi chamado de Henri.
 
Após dois anos de mais labuta, bebidas e cigarros, Gladys conheceu Stephen Bishop, seu atual marido, na festa de aniversário de um amigo de seus filhos. Americano mestiço, ele trabalhava como coiote, transportando ilegalmente mexicanos para território estadunidense. Os dois apaixonaram-se perdidamente, e Bishop foi morar em seu trailler apenas alguns meses depois de se encontrarem pela primeira vez.

Gladys e Stephen estão casados há mais de cinco anos, e juntos tiveram os gêmeos Edward e Edgard e a menina Rebecca. Dão-se bem, e vivem felizes, na medida do possível. Álcool, cigarros e entorpecentes estão sempre presentes, é verdade, mas desta vez Gladys pode dizer com certeza que qualquer coisa como o que alguns chamam de amor também está.