quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Apocalipse Zumbi


Em vésperas de fim do mundo, sonhei com um apocalipse zumbi.

Havia zumbis por toda a parte, e alguns humanos juntavam-se em grupos para tentar exterminar essa praga.

Não, eu não era um desses humanos.

Eu era um zumbi.

E minha zumbinidade me dizia que eu precisava comer o maior número de cérebros que conseguisse e converter o maior número de humanos possíveis, porque eles eram uma praga para este planeta e só seriam salvos se se tornassem zumbis, como eu.

...

Acordei achando que eu era um pastor evangélico.

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(Obs.: Quero que este texto vá pro Sonhei com o Elvis.)

(Obs. 02: A sensação de comer cérebros é parecida com a de comer balas de gelatina com calda de cereja.)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Baile de Máscaras


Você já teve aquela vontade irresistível de escrever alguma coisa sem saber exatamente o quê cargas d'água você queria escrever?

É como se os Pensamentos, as Palavras e as Caraminholas Da Cabeça estivessem dando um grande Baile de Máscaras onde cada um deles podia ser o mesmo, ou nenhum, ou todos ao mesmo tempo.

A Idéia, ainda portando seu acento tal qual coroa de diamantes,
está em algum lugar desta festa. Apesar de não vê-la, eu posso sentir o seu perfume almiscarado. Está dançando valsa com seu vestido de babados, uma máscara brilhante colada aos olhos e um sorriso faceiro nos lábios. Sabe que é perseguida, que foi por um instante vislumbrada e, num impulso egoísta, torna-se invisível, esquiva-se no meio das mil duplas presentes no salão e desaparece, antes que seja possível destacá-la da multidão.

A Inspiração, esta ébria de vestido vermelho rendado e decotado para quem o copo encontra-se sempre meio cheio, busca em vão sua companheira entre os presentes, até encontrar a próxima garrafa de rum. E, então, fazendo um brinde em voz alta à Idéia, "aquela egoísta mal caráter que só olha pro próprio umbigo e não aceita o fato de que precisa tirar aquela coroazinha barata de diamantes falsos", convida todos os presentes a dançar o bom e velho Rock´n´Roll.

E o Baile de Máscaras continua madrugada a dentro, mesmo que você ainda não tenha certeza de que o que escreveu era, de fato, o que aquela vontade irresistível de escrever queria que você realmente escrevesse.



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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Ladra Do Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas.



Horário de expediente. Conto as horas no relógio, que parece ter feito um curso de lentidão para tartarugas e move-se como se estivesse debaixo d'água. Dia tranquilo, porém tedioso - pra variar.


Resolvi fumar um cigarro no jardim. Ah, o jardim. O único espaço do meu local de trabalho onde as vibrações astrais não estão doidas para a qualquer momento pular em seu pescoço com uma navalha bem afiada. Um agradável e ensolarado jardim, cheio de plantas e passarinhos e flores e borbol... BORBOLETAS!?

Hum, certo. Não tenho problema com borboletas. Borboletas são bonitinhas, são como fadinhas cintilantes e coloridas que surfam nas brisas do entardecer.

Sim, sim, borboletas bonitinhas, muito fofinhas. Cuti-cuti.
Fiquem aí, certo? Quietinhas, batendo suas asinhas psicodélicas a uma boa distância desta pseudo-hippie do cabelo despenteado que só queria um momento de paz e tranquilidade feito de tabaco enrolado vendido em maços a quatro reais e setenta e cinco centavos.

- Olha! - diz uma borboleta vermelha com pintas pretas para sua colega Amarelinha - O Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas!

- Hã? Onde? - responde em polvorosa a Amarelinha.

- Ali, nas mãos daquela moça de saia azul! Olha como a fumaça azulada que sai dele cintila na luz do Sol! Ou ela roubou o Bastão Defumador do Deus das Borboletas ou ela própria é o Deus das Borboletas!

- Ah! Mas ela não tem cara de Deus das Borboletas. As asas dela são muito murchas, e ela não é multicolorida.

- Então ela só pode ser A Ladra Da Profecia Que Dizia Que Um Dia Uma Moça De Saia Azul Roubaria O Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas! É nossa missão resgatá-lo!

- Vamos chamar reforços!

Surgindo de todos os buracos possíveis deste jardim, e com um brilho vermelho no olhar (?), as borboletas voaram com intenções homicidas para cima desta que vos escreve.
Joguei o Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas no cinzeiro e corri o mais rápido que pude, entrando em minha sala e fechando a porta de vidro estrondosamente atrás de mim.

As borboletas, vitoriosas, ainda estão lá, pairando em volta do Bastão Defumador, entoando cânticos de louvor ao seu deus e com metralhadoras e granadas de pólem apontadas e preparadas para destroçar qualquer um que ouse se aproximar.


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Ter medo irracional de algo inofensivo é o jeito mais fácil de parecer a pessoa mais idiota do mundo em apenas alguns segundos.
Fikdik.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ressaca Pós-Inauguração

A inspiração estava lá, jogada na sarjeta com meia dúzia de garrafas marrons de cerveja a sua volta. Seus cabelos cor de arco-íris caíam pesados sobre seu rosto translúcido e, não fosse o ritmado sobe-e-desce de seu peito, qualquer médico legista de esquina assinaria em dois segundos um atestado de óbito e sairia para surfar a pororoca na região amazônica.

- Oi, Inspiração? - eu disse, balançando a cabeça em desaprovação - Aproveitou bem a festa, foi?

- Huh - grunhiu ela - Arghjahgg hmmm rrhhjhjhj...

- Eu disse pra você não beber tanto. Ainda não está cem por cento bem, acabou de se reerguer das cinzas, pô! Qualquer um no seu caso precisaria de um tempo de resguardo, de descanso... cê não devia ter caído na farra tão cedo.

- Ahnggg... msssmmmm br.

- É sempre assim. Você aparece toda pimpona, diz que vai ficar e dá um vexame desses.

A Inspiração levantou a cabeça de leve, abriu os olhos violetas e tentou focalizá-los.

- Aahh... maasszzz... eu tô accquii... nãaum tô?

- Ah, tá. E de quê adianta, nesse estado? Vou escrever o quê, com você assim?

- Aaahhhhhhhhh, maszzzz adjianta, simmmm... olha zsóó, vo zte azjudar... vozscê vai ezscrevee... ezscrevee... zsobre... uma scherta Inzspirazzaaãumm... cque... ficquou bêbada... eee...

Fechei os olhos e contei até dez.

- Merda. Eu te odeio.

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Olá. Meu nome é Ana Carolina e eu tenho uma Inspiração alcoólatra. Obrigada.

Manskaoosin: Re-criação

Eis que das profundezas obscuras do Castelo de Cartas Marcadas surge uma figura encapuzada e empoeirada.

Misturando-se à neblina espessa, disforme, toda panos e sombras, a figura ergue-se vagarosamente, revelando estatura imponente e assustando os pequenos momeraths que procuravam biscoitos de polvilho entre as árvores do Bem e do Mal.

Aproximou-se cautelosa das três velas cor de carmim, única iluminação naquela terra de sombras, estalando os ossos e as juntas enferrujadas dos anos sem uso.

Espreguiçou-se e bocejou, fazendo a chama daquelas pequenas fontes luminosas portáteis tremeluzir fracamente.

Num movimento brusco, tirou a capa cinzenta que a encobria e soprou vigorosamente as velas escarlates.

O mundo fez-se escuridão.

E então, da boca daquela figura outrora encapuzada, uma bola cintilante mais brilhante que o próprio Sol surgiu, elevando-se majestosamente para o Céu e ali fixando-se, tal qual pai de todas as coisas viventes sob a luz.

Agora aquele mundo viveria outra vez.

A figura outrora encapuzada ergueu as mãos para cima em adoração e tirou os cabelos cor de arco-íris do rosto. Possuía uma tez translúcida e enormes olhos violetas. Ela abriu seus lábios azulados, respirou profundamente e disse:

- E aê, negada! Sou eu! A Inspiração! Cadê todo mundo? Cadê o champanhe, a cerveja e o vinho? Acabamos de re-inaugurar um mundo onde tudo é possível desde que você não entre em pânico, precisamos MUITO beber até cair!

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Bem-vindos a Manskaoosin!