terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ira Divina

Jennifer Coll, da cidade de Loveland no estado do Colorado foi atingida, enquanto dirigia por uma estrada rural e rezava suas orações matinais, por uma marreta voadora.

Jennifer Coll
Imagino que, estadunidense que é, Jennifer seja protestante. Assim, provavelmente rezava para o deus tríplice Jeová - que a esta altura do campeonato já se desvinculou de seu próprio nome e é conhecido simplesmente por Deus-Com-Letra-Maiúscula - fervorosamente.

Como todos sabem, Jeová sempre foi meio megalomaníaco. Foi sua necessidade de conquistar cada vez mais fiéis que fez com que a Grande Batalha Dos Deuses Antigos começasse.

Desde os tempos imemoriais os deuses eram deuses de um povo ou região, e se contentavam tranquilamente em terem como adoradores os humanos pertencentes àquele povo ou àquela região. Uma vez ou outra um novo deus surgia de algum lugar obscuro e ermo e tomava o lugar do mais antigo através de pequenas batalhas ou jogos de sorte, e tudo acontecia como devia acontecer.

Até, é claro, a chegada de Jeová.

Fazendo uma excelente leitura de conjuntura, Jeová percebeu, há uns dois mil e poucos anos, que seus dias como deus patrono de uma nação específica estavam contados. Utilizando muito bem o dom da previsão do futuro próximo tipicamente divina ele viu que a humanidade estava se desenvolvendo cada vez mais, expandindo-se por locais antes inimagináveis, intercambiando ideias entre os povos, e, em breve, não só ele, mas também todos os deuses não teriam mais espaço para seus embates. O deus que quisesse sobreviver a estes novos tempos deveria se adaptar. E, em especial, deveria ser deus não mais exclusivamente de um povo ou região, mas deus de todos.

Com a estratégica jogada dupla de encarnar no mundo terreno assumindo o papel de seu próprio filho, tornando-se ele mesmo três e um ao mesmo tempo, acumulando assim poder e maleabilidade, e de associar-se deliberadamente a populações tipicamente expansionistas, possibilitando que a crença em si fosse disseminada por várias partes do mundo, Jeová conseguiu, no decorrer dos últimos milênios, vencer quase que absolutamente a batalha divina por fiéis.

Obviamente, esta vitória de Jeová - ou do Deus-Com-Letra-Maiúscula - não é reconhecida por nenhum outro deus. Deuses são, por excelência, egocêntricos e arrogantes e todos os que sobreviveram ao esquecimento, especialmente os que foram rebaixados à categoria de Mitos, ainda hoje buscam de algum jeito iniciar uma revanche. Dizem que o mais rancoroso de todos ainda é Thor, Senhor dos Trovões e proprietário da lendária Marreta Mjölnir, que nunca se conformou com o fato da barba de Jeová ser muito mais adorada do que a sua.

A pobre Jennifer Coll, senhora tranquila, fiel do Deus-Com-Letra-Maiúscula, foi apenas mais uma vítima destes inescrupulosos seres.

Thor, prestes a jogar sua marreta em Jennifer: 
"Minha barba é muito melhor do que a dele, bitch!"

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tosse, tosse, tosse



Tosse, tosse, tosse.

Um copo de chá aguado com cheiro de perfume barato.

Tosse, tosse, tosse.

Um ardor na garganta inflamada com jeito de gato arranhado.

Tosse, tosse, tosse.

Uma bala de hortelã mentolada com gosto de naftalina passada.

Tosse, tosse, tosse.

Já posso ir pra casa agora?

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TOSSE, TOSSE, TOSSE.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Caos (ou Pensamentos Sobre o Pensar)

No princípio havia um ser pensante, surgido talvez de seu próprio pensamento, que não sabia de sua própria existência e não pensava em nada.

Então, subitamente, com um vendaval de pensamentos, este ser pensante descobriu que pensava. Pensativamente, pensou ser interessante pensar sobre o fato de que realmente pensava, e quais pensamentos pensaria ao pensar.

Pensamentos sobre o próprio pensar foram pensados e repensados, até que, outrora apenas pensamentos pensados pelo ser que pensava, tais pensamentos pensaram, agora, que poderiam, por quê não?, pensar por si próprios os seus próprios pensamentos, mesmo antes tendo sido apenas pensamentos pensados e repensados por aquele primeiro ser pensante que descobrira pensativamente que podia pensar.

E, assim, os pensamentos pensados por aquele primeiro ser pensante que descobriu que pensava passaram, então, pensando por conta própria, a serem eles próprios novos seres pensantes que, por sua vez, descobriram que pensavam, tornando-se, desta forma, pensadores de novos pensamentos que pensariam, após alguns pensamentos, também eles por si próprios, tornando-se eles mesmos novos seres pensantes pensadores de novos pensamentos que seriam a origem de novos seres pensantes que pensariam novos pensamentos e assim infinitamente, até o pensar, agora sem nenhum rastro de sua verdadeira origem pensante, sublimar-se em pensamento e voltar pensativamente a ser apenas um pensamento pensante que descobriu que pensava.

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domingo, 6 de novembro de 2011

Série Sonhos Bizarros: O Planeta Muito Próximo Do Sol E As Terríveis Bestas Aladas

Eu estava em um foguete espacial em órbita de algum planeta muito próximo de uma estrela muito quente e muito brilhante. Estava quente, absurdamente quente, e as tubulações de ar começavam a derreter. Eu e a tripulação – um homem que se parecia muito com o meu pai, uma garota que poderia ser alguma das minhas duas irmãs ou nenhuma delas e o Spock – precisávamos dar um jeito de pousar a nave em segurança na base que o Império Humano havia construído naquele planeta. Lá haveria ar fresco e bolinhos de chuva para todos.

Depois de algumas manobras conseguimos chegar até a base. Sãos e salvos, mas sem os prometidos bolinhos de chuva, fomos recebidos pelo Major Guia que fora indicado para o posto para resgatar possíveis náufragos espaciais.

O planeta era muito próximo do sol daquele sistema, por isso era quente, apesar da atmosfera ser muito parecida com a da Terra, e só era possível perambular pela superfície durante a noite. Só que, à noite, as terríveis Bestas Aladas, animais nativos parecidos com ptedotáctilos, saíam para caçar. Era muito perigoso. Mas eu queria porque queria passear naquele lugar. Era a primeira vez que eu estava em um planeta diferente da Terra, porra, não podia perder a oportunidade.

O Major Guia me disse que durante o crepúsculo também era possível sair da base, e as Bestas Aladas ainda estariam dormindo, mas eu precisava voltar antes de escurecer por completo. Aquele planeta tinha duas luas que estariam cheias e eu me tornaria um alvo muito fácil.

- Carne humana se tornou uma iguaria entre as Bestas Aladas – ele me confidenciou.

Ao anoitecer eu saí da base. O Major Guia me acompanhou, primeiro à pé, e depois, num salto de imaginação onírica, montado em um bicho do tamanho de um cavalo que era uma mistura de dinossauro bípede com galinha d’Angola. No meio do passeio eu percebi que a gravidade do planeta era diferente, e resolvi tentar voar. Dei três pulinhos – tipo aqueles que a gente dava no jogo do Mario para Nintendo 64 quando ele usava o bonezinho com asas para que ele voasse, lembra? – e comecei a voar. O Major Guia disse que era melhor eu não voar acima das nuvens, porque era onde as Bestas Aladas costumavam ficar.

Só que quando ele disse isso eu já não estava mais ouvindo.

Voei acima das nuvens num céu cor-de-laranja e azul-marinho, a brisa com cheiro de pêssego batendo no rosto e despenteando meus cabelos, toda empolgada porque estava voando sem asas num planeta diferente.

- E dessa vez é de verdade! Nem é sonho!

E então as Bestas Aladas surgiram. Primeiro como sombras nas nuvens, depois como dentes afiados vindo em minha direção.

- Eu te avisei! – disse o Major Guia dando um salto com seu cavalo-dinossauro-galinha e virando ele também uma Besta Alada.

Tentei fugir das feras dando cambalhotas, mas elas estavam muito perto de mim, agora.

- Porra. Alegria de pobre dura pouco, mesmo – pensei.

E acordei. Provavelmente porque fui comida por uma das Bestas Aladas e, como ser digerida pelo estômago de um dinossauro alienígena nunca esteve nos meus planos, meu inconsciente achou melhor me acordar.

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Acho que ando assistindo muito Doctor Who.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gostosuras ou Travessuras?


Dia das bruxas. Crianças vestidas de monstrinhos - e muitas delas definitivamente não precisaram se esforçar muito para tal - tocando alegremente as campainhas dos apartamentos para pedir doces ou pregar peças. Ou apenas para pedir doces. Ou para pedir doces E pregar peças. Ou simplesmente para pregar peças, já que esta é uma função básica e muito bem empreendida por pequenos pimpolhos remelentos de oito ou dez anos.

Enfim. Dia das bruxas.

Você, caro leitor, já passou pela experiência de abrir a porta para um grupo de mini-zumbis-desesperados-por-doces no dia 31 de Outubro de qualquer ano?

O horror, oh, o horror.

As crianças - ou mini-zumbis-desesperados-por-doces - estapeiam-se para conseguir um punhado maior de balas ou pirulitos como se fossem blogueiros nerds gorduchos lutando pelo último pedaço de bacon existente na face da Terra.

Normal. Exatamente o que todos esperavam num belo e frio - apesar de que o frio, em si, não era realmente esperado por ninguém dos trópicos nessa época do ano. Há boatos de que São Pedro deixou a máquina do tempo na mão de estagiários e foi tirar férias de inverno na casa de seu compadre, o Papai Noel. Os estagiários, obviamente, preferiram fazer uma bela festa com o suco de uva que o truta Djízus transformou em vinho e deixaram a tal máquina no automático. Mas isso não vem ao caso, nesse caso - dia 31 de outubro.

O que estes pequenos monstrinhos desesperados por algumas porções de glicose não esperavam era que, ao tocarem inocentemente a campainha de um apartamento no oitavo andar do condomínio mais brega da região pobre do Morumbi, a Terrível Girafa Hippie Demoníaca Dos Bosques Assombrados em pessoa viesse lhes receber.

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O susto que a criançada levou foi impagável. XD