segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Série Sonhos Bizarros: As Pessoas-Bolhas, os Gigantes e a Dança do Fim do Sonho


Eis que meu subconsciente ataca novamente.

Sonhei que estava no hospital onde o Dr. House trabalha. Eu conversava com algum paciente sobre a misteriosa doença que ele poderia porventura ter quando, subitamente, o homem começou a encolher. E a virar uma mulher. Ele/ela ficou bem pequenininho, do tamanho da palma da minha mão, e começou a rir histericamente. Dr. House então apareceu e colocou o homem-agora-mulher em uma garrafinha plástica. Que de repente virou uma bolha.

Mini-pessoas-bolha em uma festa de casamento
- Temos que guardar este espécime em um lugar seguro. Os Cabeças Intergalácticos podem querer estourá-lo para acabar com as provas - disse-me House, deixando a mulher-bolha na minha mão e sumindo atrás de uma cadeira-portal.

Eu andei pelo corredor segurando aquele pequeno ser e pensando "isso aqui tá mais pra Dr. Who do que pra Dr. House", e, quando passei pela soleira de uma porta de vidro, um homem de terno preto, cabeça raspada e barba preta pipocou na minha frente com um sorriso maligno e estourou o pequeno homem-mulher-bolha.

- Ah, agora é MIB: Homens de Preto - disse alegremente para a menina que surgiu magicamente do meu lado.

Eu saí do hospital com a menina do meu lado, e um caminhão aberto com um carregamento de pessoas-bolhas estava passando em um viaduto.

- Temos que guardá-los em um lugar seguro! - eu gritei, e comecei a correr até o caminhão. Mas ele estava muito longe, eu nunca conseguiria alcançá-lo.

Então me lembrei que sabia esticar minhas pernas (?!), e assim o fiz. Dei alguns passos elásticos e cheguei até o caminhão. Mas ele era muito maior do que eu, como faria para salvar aquelas pequenas almas dos terríveis Cabeças Intergalácticos?

Ah, é claro! Vou ativar os meus genes gigantes (!?) !

Cresci alguns metros, virei um gigante e peguei o caminhão enquanto ele tentava virar à esquerda na curva de acesso para a avenida principal. O problema foi que, como agora eu era gigante, as pessoas-bolha eram muito minúsculas pra eu poder enxergá-las, e acabei amassando todas elas quando tirei o caminhão do chão.

Comecei a chorar de desespero. E minhas lágrimas viraram uma chuva de verão em São paulo e causaram um dilúvio na cidade.

Mas, para minha surpresa, a massa amorfa que antes fora algumas centenas de mini-pessoas-bolha, em contato com a água das minhas lágrimas, começou a se mexer e tomar forma, virando, por fim, um gigante como eu.

- Temos que salvar os outros! - ele me disse.

E corremos pela cidade inundada, pequena para meus pés de gigantes, até chegarmos em uma sala com tapete de onça e ventilador de teto. Ela era estranhamente grande, o suficiente para que coubéssesmos nela com folga. Acho que era a antessala de um cinema. E ali encontramos o mesmo homenzinho de terno preto, cabeça raspada e barba preta que estourara a primeira pessoa-bolha que apareceu nesta história. E eu imagino que ela também tinha genes gigantes ativáveis em seu código genético, porque estava do mesmo tamanho que eu e o outro gigante-que-outrora-fora-centenas-de-mini-pessoas-bolhas.

- Ahhuyejhg aehuhuieo lçappoqjijjhh - disse ele. E começou a dançar.

E eu e o gigante-que-outrora-fora-centenas-de-mini-pessoas-bolhas começamos a dançar também. Eu ensaiei alguns passos da dança do ventre em cima do ventilador de teto (?!) esperando, com isso, que a história finalmente chegasse ao fim.

Dança Mística Para O Fim Da História


E acordei.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tutorial De Como Matar Uma Mariposa Gigante

Esta bela e trágica história se passou nos idos anos de 2008, no mês de Outubro. Já postei antes no antigo Idéias Mais Mirabolantes, mas eu precisava publicá-la aqui mais uma vez. É sempre atual. XD

...

Estávamos nós, eu e Thiago, calmamente sentados no sofá da casa da minha avó em Águas de São Pedro, altas horas da madrugada, assistindo ao Novo Tele Curso – que, aliás, é realmente muito novo, diga-se de passagem; as placas dos carros que passavam na gravação ainda eram amarelas, os ônibus eram brancos com uma linha vermelha no meio e as pessoas usavam aqueles penteados cheios lindos do começo dos anos 90 e aquelas calças de cintura alta coloridas – quando, de repente, eis que essa que aqui vos escreve nota alguma coisa muito preta e muito nojenta delicadamente (?!) pousada no vidro da janela.


— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta? — perguntei, temendo a resposta.

Como todos bem sabem, eu tenho um certo, hum, como poderia dizer?, receio de borboletas.
Na verdade, não é bem um receio.
É medo, mesmo.
Pavor.
E não tem explicação nenhuma pra isso, exceto que minha avó também tem.
Já me disseram que, de acordo com a psicanálise, pode ser que esse meu pé atrás em relação às borboletas (escrever aqui “meu pavor de” seria mais correto, mas faria com que me sentisse idiota, então, deixa pra lá) e qualquer coisa que voe de maneira geral seja porque eu tenho inveja da liberdade que esses animais têm por poderem voar.
Talvez.
Mas se voar for mesmo só uma questão de errar o chão, então...
Ah, deixa pra lá.
Voltando ao que aconteceu.

— Thi... Aquilo ali é uma barata ou uma borboleta?

— Acho que é uma borboleta... ai, não, acho que é uma mariposa!

Foi o tempo de processar a palavra “mariposa” e ligar o nome ao bicho que os dois corajosos urbaninhos puseram-se de pé num pulo e foram refugiar-se no extremo oposto da sala, quase que atrás da mesa.

— E agora? Você vai matar? — perguntei, em meu desespero crescente.

— Matar isso aí? Ai. Tem SBP? Ai.

Bom ter um namorado que tem tanto medo de mariposa quanto eu.
Lá foi a garota do cabelo roxo desbotado em busca da salvação e do alívio que se materializavam em um vidro de SBP.

— Olha, tá aqui. E o pano. — eu disse, entregando-lhe as armas, assumindo uma expressão de “eu confio que você vai voltar vivo” digna de esposa de soldado em véspera de batalha e tratando de sair rapidinho dali.

Pobre Thiago. Foi-se chegando de mansinho ali perto da janela, entrincheirando-se atrás do sofá, as armas em punho, uma expressão de determinação no rosto. Engatilhou o vidro de SBP e disparou uma, duas, três vezes, dando um passo para trás a cada vez que a mariposa esboçava qualquer sinal de tentar se mexer.

— Ô Thi... acho que você tem que espirrar mais em cima dela, não? — balbuciei do meu esconderijo na cozinha.

— Tô tentando!! — disse ele, e espirrou uma quarta vez. Oh, céus. Para quê. E não foi que a mariposa maldita resolveu levantar vôo?

Não deu nem uns três segundos e eu já estava escondida atrás da porta da lavanderia, com um cachorro poddle preto com cara de sono a me observar desaprovadoramente e um sentimento nada propício de que não deveria ter deixado meu pobre namorado lutando sozinho com aquele monstro.
Cadê sua coragem, Carolina!
Juntei minhas forças, ou o que sobrara delas, e voltei para o campo de batalha.

— Thi?

— É melhor você ficar aí. Ela tava voando; agora tá pendurada no sofá.

— Ai. Vou tentar abrir a porta pra ela sair!

Brilhante idéia, Carolina. Brilhante. Como você pretendia fazer aquilo sem passar por aquele monstro mutante?
Mas lá fui eu, exemplo da coragem feminina, pulando a qualquer tremida de asas da mariposa, abrir a porta. E consegui sair ilesa da missão, vivas para mim! Entretanto, quem não quis entrar na brincadeira foi a mariposa. Lá ela continuou, pousada no sofá, parece que zombando das nossas tentativas frustradas de fazê-la ir embora.

— Taca mais SBP! — eu disse.

Acabamos com o vidro de SBP; nada. Busquei outro. No que o Thiago abriu o frasco aquele demônio alado, talvez prevendo outra tentativa homicida da nossa parte, abriu suas enormes asas negras e amareladas e partiu para cima do coitado.

— AH! AHHH! ELA TÁ ME ATACANDO!!!

— AAAAHHHHH!!!!

Corremos para a cozinha. De lá, observávamos a astúcia da mariposa, voando calmamente pela sala. Depois de algum tempo, ela se escondeu em baixo da mesa.

— É agora! — eu disse — Mais SBP!

Espirramos mais SBP naquela mutação genética, que começou a se debater freneticamente. Esboçou mais algumas tentativas de vôo, frustradas pelo veneno, e pôs-se a cambalear pelo chão da sala.

— Ah, agora fica mais fácil, né? — eu disse.

— É, né... — respondeu o Thiago, e ficou me olhando — Mas ela ainda tá fugindo.

Depois de algumas tentativas frustradas de tiro ao alvo com meus chinelos, eis que Thiago teve a brilhante idéia de jogar o pano em cima da mariposa.

— Você joga — falei.

E ele jogou. Acertou em cheio as asonas pretas e nojentas da mariposa.
E lá ficou, aquele monstro diabólico e perverso, debatendo-se debaixo do pano de chão sujo.

— Você vai pegar a bichinha? — perguntei, suplicante, mas já sabendo a resposta.

— Há. De jeito nenhum. Deixa ela aí!

Mas eu não podia deixá-la ali.
Ela se debatia, o pano mexia, começava a me dar uma agonia danada de ver a agonia da pobrezinha.
Sim, ela era um monstro vindo direto do inferno, mas, ainda assim, a hora da morte de qualquer ser vivo deve ser respeitada.
E foi por isso, por piedade, que eu não tive dúvidas e pisei em cima do pano. Uma, duas, três vezes. Dancei um sapateado romeno em cima da bicha, até ter certeza de que ela não iria se mexer mais.

— Pronto. Agora você pega? — perguntei.

— Eu, heim!! — respondeu Thiago se afastando.

Então, como não havia mais jeito, fiz eu o trabalho sujo de me livrar do corpo. Deitei-o no jardim, com pano e tudo, da maneira mais rápida e limpa que pude encontrar.

E foi assim que se deu a batalha épica de dois urbaninhos guerreiros e extremamente corajosos com um terrível monstro alado saído direto dos últimos círculos do inferno.
Por favor, crianças, não tentem isso em casa. Um negócio desses pode causar danos psicológicos irreversíveis...

E fim.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ira Divina

Jennifer Coll, da cidade de Loveland no estado do Colorado foi atingida, enquanto dirigia por uma estrada rural e rezava suas orações matinais, por uma marreta voadora.

Jennifer Coll
Imagino que, estadunidense que é, Jennifer seja protestante. Assim, provavelmente rezava para o deus tríplice Jeová - que a esta altura do campeonato já se desvinculou de seu próprio nome e é conhecido simplesmente por Deus-Com-Letra-Maiúscula - fervorosamente.

Como todos sabem, Jeová sempre foi meio megalomaníaco. Foi sua necessidade de conquistar cada vez mais fiéis que fez com que a Grande Batalha Dos Deuses Antigos começasse.

Desde os tempos imemoriais os deuses eram deuses de um povo ou região, e se contentavam tranquilamente em terem como adoradores os humanos pertencentes àquele povo ou àquela região. Uma vez ou outra um novo deus surgia de algum lugar obscuro e ermo e tomava o lugar do mais antigo através de pequenas batalhas ou jogos de sorte, e tudo acontecia como devia acontecer.

Até, é claro, a chegada de Jeová.

Fazendo uma excelente leitura de conjuntura, Jeová percebeu, há uns dois mil e poucos anos, que seus dias como deus patrono de uma nação específica estavam contados. Utilizando muito bem o dom da previsão do futuro próximo tipicamente divina ele viu que a humanidade estava se desenvolvendo cada vez mais, expandindo-se por locais antes inimagináveis, intercambiando ideias entre os povos, e, em breve, não só ele, mas também todos os deuses não teriam mais espaço para seus embates. O deus que quisesse sobreviver a estes novos tempos deveria se adaptar. E, em especial, deveria ser deus não mais exclusivamente de um povo ou região, mas deus de todos.

Com a estratégica jogada dupla de encarnar no mundo terreno assumindo o papel de seu próprio filho, tornando-se ele mesmo três e um ao mesmo tempo, acumulando assim poder e maleabilidade, e de associar-se deliberadamente a populações tipicamente expansionistas, possibilitando que a crença em si fosse disseminada por várias partes do mundo, Jeová conseguiu, no decorrer dos últimos milênios, vencer quase que absolutamente a batalha divina por fiéis.

Obviamente, esta vitória de Jeová - ou do Deus-Com-Letra-Maiúscula - não é reconhecida por nenhum outro deus. Deuses são, por excelência, egocêntricos e arrogantes e todos os que sobreviveram ao esquecimento, especialmente os que foram rebaixados à categoria de Mitos, ainda hoje buscam de algum jeito iniciar uma revanche. Dizem que o mais rancoroso de todos ainda é Thor, Senhor dos Trovões e proprietário da lendária Marreta Mjölnir, que nunca se conformou com o fato da barba de Jeová ser muito mais adorada do que a sua.

A pobre Jennifer Coll, senhora tranquila, fiel do Deus-Com-Letra-Maiúscula, foi apenas mais uma vítima destes inescrupulosos seres.

Thor, prestes a jogar sua marreta em Jennifer: 
"Minha barba é muito melhor do que a dele, bitch!"

...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tosse, tosse, tosse



Tosse, tosse, tosse.

Um copo de chá aguado com cheiro de perfume barato.

Tosse, tosse, tosse.

Um ardor na garganta inflamada com jeito de gato arranhado.

Tosse, tosse, tosse.

Uma bala de hortelã mentolada com gosto de naftalina passada.

Tosse, tosse, tosse.

Já posso ir pra casa agora?

...


TOSSE, TOSSE, TOSSE.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Caos (ou Pensamentos Sobre o Pensar)

No princípio havia um ser pensante, surgido talvez de seu próprio pensamento, que não sabia de sua própria existência e não pensava em nada.

Então, subitamente, com um vendaval de pensamentos, este ser pensante descobriu que pensava. Pensativamente, pensou ser interessante pensar sobre o fato de que realmente pensava, e quais pensamentos pensaria ao pensar.

Pensamentos sobre o próprio pensar foram pensados e repensados, até que, outrora apenas pensamentos pensados pelo ser que pensava, tais pensamentos pensaram, agora, que poderiam, por quê não?, pensar por si próprios os seus próprios pensamentos, mesmo antes tendo sido apenas pensamentos pensados e repensados por aquele primeiro ser pensante que descobrira pensativamente que podia pensar.

E, assim, os pensamentos pensados por aquele primeiro ser pensante que descobriu que pensava passaram, então, pensando por conta própria, a serem eles próprios novos seres pensantes que, por sua vez, descobriram que pensavam, tornando-se, desta forma, pensadores de novos pensamentos que pensariam, após alguns pensamentos, também eles por si próprios, tornando-se eles mesmos novos seres pensantes pensadores de novos pensamentos que seriam a origem de novos seres pensantes que pensariam novos pensamentos e assim infinitamente, até o pensar, agora sem nenhum rastro de sua verdadeira origem pensante, sublimar-se em pensamento e voltar pensativamente a ser apenas um pensamento pensante que descobriu que pensava.

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domingo, 6 de novembro de 2011

Série Sonhos Bizarros: O Planeta Muito Próximo Do Sol E As Terríveis Bestas Aladas

Eu estava em um foguete espacial em órbita de algum planeta muito próximo de uma estrela muito quente e muito brilhante. Estava quente, absurdamente quente, e as tubulações de ar começavam a derreter. Eu e a tripulação – um homem que se parecia muito com o meu pai, uma garota que poderia ser alguma das minhas duas irmãs ou nenhuma delas e o Spock – precisávamos dar um jeito de pousar a nave em segurança na base que o Império Humano havia construído naquele planeta. Lá haveria ar fresco e bolinhos de chuva para todos.

Depois de algumas manobras conseguimos chegar até a base. Sãos e salvos, mas sem os prometidos bolinhos de chuva, fomos recebidos pelo Major Guia que fora indicado para o posto para resgatar possíveis náufragos espaciais.

O planeta era muito próximo do sol daquele sistema, por isso era quente, apesar da atmosfera ser muito parecida com a da Terra, e só era possível perambular pela superfície durante a noite. Só que, à noite, as terríveis Bestas Aladas, animais nativos parecidos com ptedotáctilos, saíam para caçar. Era muito perigoso. Mas eu queria porque queria passear naquele lugar. Era a primeira vez que eu estava em um planeta diferente da Terra, porra, não podia perder a oportunidade.

O Major Guia me disse que durante o crepúsculo também era possível sair da base, e as Bestas Aladas ainda estariam dormindo, mas eu precisava voltar antes de escurecer por completo. Aquele planeta tinha duas luas que estariam cheias e eu me tornaria um alvo muito fácil.

- Carne humana se tornou uma iguaria entre as Bestas Aladas – ele me confidenciou.

Ao anoitecer eu saí da base. O Major Guia me acompanhou, primeiro à pé, e depois, num salto de imaginação onírica, montado em um bicho do tamanho de um cavalo que era uma mistura de dinossauro bípede com galinha d’Angola. No meio do passeio eu percebi que a gravidade do planeta era diferente, e resolvi tentar voar. Dei três pulinhos – tipo aqueles que a gente dava no jogo do Mario para Nintendo 64 quando ele usava o bonezinho com asas para que ele voasse, lembra? – e comecei a voar. O Major Guia disse que era melhor eu não voar acima das nuvens, porque era onde as Bestas Aladas costumavam ficar.

Só que quando ele disse isso eu já não estava mais ouvindo.

Voei acima das nuvens num céu cor-de-laranja e azul-marinho, a brisa com cheiro de pêssego batendo no rosto e despenteando meus cabelos, toda empolgada porque estava voando sem asas num planeta diferente.

- E dessa vez é de verdade! Nem é sonho!

E então as Bestas Aladas surgiram. Primeiro como sombras nas nuvens, depois como dentes afiados vindo em minha direção.

- Eu te avisei! – disse o Major Guia dando um salto com seu cavalo-dinossauro-galinha e virando ele também uma Besta Alada.

Tentei fugir das feras dando cambalhotas, mas elas estavam muito perto de mim, agora.

- Porra. Alegria de pobre dura pouco, mesmo – pensei.

E acordei. Provavelmente porque fui comida por uma das Bestas Aladas e, como ser digerida pelo estômago de um dinossauro alienígena nunca esteve nos meus planos, meu inconsciente achou melhor me acordar.

...

Acho que ando assistindo muito Doctor Who.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gostosuras ou Travessuras?


Dia das bruxas. Crianças vestidas de monstrinhos - e muitas delas definitivamente não precisaram se esforçar muito para tal - tocando alegremente as campainhas dos apartamentos para pedir doces ou pregar peças. Ou apenas para pedir doces. Ou para pedir doces E pregar peças. Ou simplesmente para pregar peças, já que esta é uma função básica e muito bem empreendida por pequenos pimpolhos remelentos de oito ou dez anos.

Enfim. Dia das bruxas.

Você, caro leitor, já passou pela experiência de abrir a porta para um grupo de mini-zumbis-desesperados-por-doces no dia 31 de Outubro de qualquer ano?

O horror, oh, o horror.

As crianças - ou mini-zumbis-desesperados-por-doces - estapeiam-se para conseguir um punhado maior de balas ou pirulitos como se fossem blogueiros nerds gorduchos lutando pelo último pedaço de bacon existente na face da Terra.

Normal. Exatamente o que todos esperavam num belo e frio - apesar de que o frio, em si, não era realmente esperado por ninguém dos trópicos nessa época do ano. Há boatos de que São Pedro deixou a máquina do tempo na mão de estagiários e foi tirar férias de inverno na casa de seu compadre, o Papai Noel. Os estagiários, obviamente, preferiram fazer uma bela festa com o suco de uva que o truta Djízus transformou em vinho e deixaram a tal máquina no automático. Mas isso não vem ao caso, nesse caso - dia 31 de outubro.

O que estes pequenos monstrinhos desesperados por algumas porções de glicose não esperavam era que, ao tocarem inocentemente a campainha de um apartamento no oitavo andar do condomínio mais brega da região pobre do Morumbi, a Terrível Girafa Hippie Demoníaca Dos Bosques Assombrados em pessoa viesse lhes receber.

...

O susto que a criançada levou foi impagável. XD

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Apocalipse Zumbi


Em vésperas de fim do mundo, sonhei com um apocalipse zumbi.

Havia zumbis por toda a parte, e alguns humanos juntavam-se em grupos para tentar exterminar essa praga.

Não, eu não era um desses humanos.

Eu era um zumbi.

E minha zumbinidade me dizia que eu precisava comer o maior número de cérebros que conseguisse e converter o maior número de humanos possíveis, porque eles eram uma praga para este planeta e só seriam salvos se se tornassem zumbis, como eu.

...

Acordei achando que eu era um pastor evangélico.

***

(Obs.: Quero que este texto vá pro Sonhei com o Elvis.)

(Obs. 02: A sensação de comer cérebros é parecida com a de comer balas de gelatina com calda de cereja.)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Baile de Máscaras


Você já teve aquela vontade irresistível de escrever alguma coisa sem saber exatamente o quê cargas d'água você queria escrever?

É como se os Pensamentos, as Palavras e as Caraminholas Da Cabeça estivessem dando um grande Baile de Máscaras onde cada um deles podia ser o mesmo, ou nenhum, ou todos ao mesmo tempo.

A Idéia, ainda portando seu acento tal qual coroa de diamantes,
está em algum lugar desta festa. Apesar de não vê-la, eu posso sentir o seu perfume almiscarado. Está dançando valsa com seu vestido de babados, uma máscara brilhante colada aos olhos e um sorriso faceiro nos lábios. Sabe que é perseguida, que foi por um instante vislumbrada e, num impulso egoísta, torna-se invisível, esquiva-se no meio das mil duplas presentes no salão e desaparece, antes que seja possível destacá-la da multidão.

A Inspiração, esta ébria de vestido vermelho rendado e decotado para quem o copo encontra-se sempre meio cheio, busca em vão sua companheira entre os presentes, até encontrar a próxima garrafa de rum. E, então, fazendo um brinde em voz alta à Idéia, "aquela egoísta mal caráter que só olha pro próprio umbigo e não aceita o fato de que precisa tirar aquela coroazinha barata de diamantes falsos", convida todos os presentes a dançar o bom e velho Rock´n´Roll.

E o Baile de Máscaras continua madrugada a dentro, mesmo que você ainda não tenha certeza de que o que escreveu era, de fato, o que aquela vontade irresistível de escrever queria que você realmente escrevesse.



***

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Ladra Do Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas.



Horário de expediente. Conto as horas no relógio, que parece ter feito um curso de lentidão para tartarugas e move-se como se estivesse debaixo d'água. Dia tranquilo, porém tedioso - pra variar.


Resolvi fumar um cigarro no jardim. Ah, o jardim. O único espaço do meu local de trabalho onde as vibrações astrais não estão doidas para a qualquer momento pular em seu pescoço com uma navalha bem afiada. Um agradável e ensolarado jardim, cheio de plantas e passarinhos e flores e borbol... BORBOLETAS!?

Hum, certo. Não tenho problema com borboletas. Borboletas são bonitinhas, são como fadinhas cintilantes e coloridas que surfam nas brisas do entardecer.

Sim, sim, borboletas bonitinhas, muito fofinhas. Cuti-cuti.
Fiquem aí, certo? Quietinhas, batendo suas asinhas psicodélicas a uma boa distância desta pseudo-hippie do cabelo despenteado que só queria um momento de paz e tranquilidade feito de tabaco enrolado vendido em maços a quatro reais e setenta e cinco centavos.

- Olha! - diz uma borboleta vermelha com pintas pretas para sua colega Amarelinha - O Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas!

- Hã? Onde? - responde em polvorosa a Amarelinha.

- Ali, nas mãos daquela moça de saia azul! Olha como a fumaça azulada que sai dele cintila na luz do Sol! Ou ela roubou o Bastão Defumador do Deus das Borboletas ou ela própria é o Deus das Borboletas!

- Ah! Mas ela não tem cara de Deus das Borboletas. As asas dela são muito murchas, e ela não é multicolorida.

- Então ela só pode ser A Ladra Da Profecia Que Dizia Que Um Dia Uma Moça De Saia Azul Roubaria O Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas! É nossa missão resgatá-lo!

- Vamos chamar reforços!

Surgindo de todos os buracos possíveis deste jardim, e com um brilho vermelho no olhar (?), as borboletas voaram com intenções homicidas para cima desta que vos escreve.
Joguei o Bastão Defumador Do Deus Das Borboletas no cinzeiro e corri o mais rápido que pude, entrando em minha sala e fechando a porta de vidro estrondosamente atrás de mim.

As borboletas, vitoriosas, ainda estão lá, pairando em volta do Bastão Defumador, entoando cânticos de louvor ao seu deus e com metralhadoras e granadas de pólem apontadas e preparadas para destroçar qualquer um que ouse se aproximar.


***

Ter medo irracional de algo inofensivo é o jeito mais fácil de parecer a pessoa mais idiota do mundo em apenas alguns segundos.
Fikdik.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ressaca Pós-Inauguração

A inspiração estava lá, jogada na sarjeta com meia dúzia de garrafas marrons de cerveja a sua volta. Seus cabelos cor de arco-íris caíam pesados sobre seu rosto translúcido e, não fosse o ritmado sobe-e-desce de seu peito, qualquer médico legista de esquina assinaria em dois segundos um atestado de óbito e sairia para surfar a pororoca na região amazônica.

- Oi, Inspiração? - eu disse, balançando a cabeça em desaprovação - Aproveitou bem a festa, foi?

- Huh - grunhiu ela - Arghjahgg hmmm rrhhjhjhj...

- Eu disse pra você não beber tanto. Ainda não está cem por cento bem, acabou de se reerguer das cinzas, pô! Qualquer um no seu caso precisaria de um tempo de resguardo, de descanso... cê não devia ter caído na farra tão cedo.

- Ahnggg... msssmmmm br.

- É sempre assim. Você aparece toda pimpona, diz que vai ficar e dá um vexame desses.

A Inspiração levantou a cabeça de leve, abriu os olhos violetas e tentou focalizá-los.

- Aahh... maasszzz... eu tô accquii... nãaum tô?

- Ah, tá. E de quê adianta, nesse estado? Vou escrever o quê, com você assim?

- Aaahhhhhhhhh, maszzzz adjianta, simmmm... olha zsóó, vo zte azjudar... vozscê vai ezscrevee... ezscrevee... zsobre... uma scherta Inzspirazzaaãumm... cque... ficquou bêbada... eee...

Fechei os olhos e contei até dez.

- Merda. Eu te odeio.

***

Olá. Meu nome é Ana Carolina e eu tenho uma Inspiração alcoólatra. Obrigada.

Manskaoosin: Re-criação

Eis que das profundezas obscuras do Castelo de Cartas Marcadas surge uma figura encapuzada e empoeirada.

Misturando-se à neblina espessa, disforme, toda panos e sombras, a figura ergue-se vagarosamente, revelando estatura imponente e assustando os pequenos momeraths que procuravam biscoitos de polvilho entre as árvores do Bem e do Mal.

Aproximou-se cautelosa das três velas cor de carmim, única iluminação naquela terra de sombras, estalando os ossos e as juntas enferrujadas dos anos sem uso.

Espreguiçou-se e bocejou, fazendo a chama daquelas pequenas fontes luminosas portáteis tremeluzir fracamente.

Num movimento brusco, tirou a capa cinzenta que a encobria e soprou vigorosamente as velas escarlates.

O mundo fez-se escuridão.

E então, da boca daquela figura outrora encapuzada, uma bola cintilante mais brilhante que o próprio Sol surgiu, elevando-se majestosamente para o Céu e ali fixando-se, tal qual pai de todas as coisas viventes sob a luz.

Agora aquele mundo viveria outra vez.

A figura outrora encapuzada ergueu as mãos para cima em adoração e tirou os cabelos cor de arco-íris do rosto. Possuía uma tez translúcida e enormes olhos violetas. Ela abriu seus lábios azulados, respirou profundamente e disse:

- E aê, negada! Sou eu! A Inspiração! Cadê todo mundo? Cadê o champanhe, a cerveja e o vinho? Acabamos de re-inaugurar um mundo onde tudo é possível desde que você não entre em pânico, precisamos MUITO beber até cair!

***

Bem-vindos a Manskaoosin!