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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Escrita aleatória ligeiramente (?) psicodélica


Estrela. Guimba. Poente. Jacaré. Dândi. Caudaloso. Filho.

DROMEDÁRIOS!

Castelos de cera derretendo-se em pequenos cubos de açúcar cristalizado são quase, mas não exatamente, completamente diferentes de uma xícara de feijão com arroz, bife e batatas-fritas.

Os sapatos vermelhos da senhora de frigideira na cabeça não podem levá-la a lugar algum: nenhum deles sabe qualquer canção instrumental cantada pelos Rolling Stones.

A margarida esqueceu-se de que um dia foi rainha e de que tinha uma bergamota de estimação - mas os buracos-caleidoscópicos que se abriram em Galápagos nada tinham a ouvir com isso.

ORNITORRINCOS!

Mamão. Jaguatirica. Sílfides. Chorumelas. Taumaturgo. Polvo. Milho.

(E o que diabos carregando cargas d'água a joaninha amarela de óculos espelhados queria me dizer?)

...

Quarentaedois.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Da Gaveta Do Meu Cérebro

Certa vez, eu abri uma gaveta do meu cérebro e de dentro dela pulou um gato listrado de óculos escuros que fumava um charuto cubano.

Ele olhou para mim com seus olhos que mudavam de cor e disse:

“Ande sempre com a chave! Nunca se sabe quando será preciso trancar a porta.”

Foi então que tudo finalmente fez sentido pra mim: um arco-íris desbotado brilhou num céu de caleidoscópio e eu pude ouvir as guitarras distorcidas dos guardiões de um paraíso que não existe.

Mas aí, no segundo seguinte, quando o silêncio imperou, o tudo se fez nada; o gato sumiu numa nuvem de fumaça e o sentido de todas as coisas do mundo fugiu de mim como as areias de uma ampulheta quebrada.

...

E, aqui, eu representando esta psicodelia
porque, bem, eu adoro pagar mico.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre Uma Lâmpada Elétrica Particularmente Irritante


Aquela lâmpada elétrica tá olhando pra mim.
Tá, sim. Eu tô vendo. Você não tá? Olha lá!!

Tá toda contentinha, se achando a última bolacha do pacote só porque é elétrica e brilha.
E daí que você brilha, minha filha? O que diabos eu tenho a ver com isso?
Pára de ficar me olhando, porra!
Eu não fiz nada pra você. Não tenho nem ondas elétricas que viram luz passando por mim!
Pára!

Ahh, ó lá, tá apagando!
Ééé, quem é que era a toda-poderosa, mesmo, heim?
Uhh, a lâmpadazinha elétrica já não é mais tão elétrica assim, veja só.


Apagou, mesmo.
Agora acendeu.
Apagou de novo.
Acendeu.
Apagou.
Acendeu.
Apagou.
Acendeu.

Porra, lâmpada, pirou de vez, foi?
Tá achando que é pisca-pisca de Natal?

Pisca...
Pisca...
Pisca...
Pisca...

Epa.
Por quê você tá piscando pra mim desse jeito?
Pára de piscar pra mim, porra!
Tá achando que vai dominar o mundo, enlouquecendo os humanos com esse acende-apaga-acende?
Pára, eu tô mandando!
PÁRA!

*CRASH*

Obrigada.

...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Rato Verde Com Asas (ou Uma História Nonsense Para Passar O Tempo)

"Rato Verde Com Asas Por Ele Mesmo"
Técnica: Mouse Ruim Sobre PaintBrush
Julho de 2012 - Rato Verde Com Asas

Era uma vez um Rato Verde Com Asas.

Um dia, estava o Rato Verde Com Asas voando alegremente pelo campo de girassóis – sim, ratos verdes com asas adoram voar alegremente por campos de girassóis – quando uma Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros surgiu de um buraco no chão e o abocanhou – é, isso; cobras cor-de-rosa com óculos escuros adoram surgir de buracos no chão e abocanhar ratos verdes com asas que voam alegremente por campos de girassóis.

Depois disso, o céu se fechou num maremoto e o Grande Provedor Das Terras Girassoleianas surgiu com seu cajado de pirulito vermelho com listras brancas que é típico do Natal e convidou os seus protegidos girassóis para dançarem Salsa.

Todos os girassóis agradeceram o convite do Grande Provedor Das Terras Girassoleianas e puseram-se a dançar freneticamente; era uma honra para eles dançar salsa com tão ilustre figura.

Nada poderia estragar aquele momento tão lindo e tão particular aos girassóis, a não ser que esta fosse a história do Rato Verde Com Asas e não a dos Girassóis Que Dançam Salsa Com Seu Grande Provedor.

Como é justamente este o presente caso, os Girassóis Dançarinos De Salsa e seu Grande Provedor foram expulsos desta história por furto de papel principal e precisaram arrastar-se pelas sarjetas do universo literário pedindo esmolas em busca de uma nova história barata na qual pudessem se enfiar.

Restituído, desta forma, de seu antigo cargo de Protagonista De História Ruim E Nonsense, o Rato Verde Com Asas pôde continuar tranquilamente a ser quase digerido pela Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros sem maiores interrupções.

E lá estava nosso pobre herói Rato Verde Com Asas quase sendo digerido pela Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros quando, subitamente, ouviu-se um estrondo de trovão e um Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes caiu do céu.

Com tamanho sobressalto, a Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros engasgou-se e teve um terrível acesso de tosse, durante o qual o fabuloso Rato Verde Com Asas aproveitou para bater com força suas asas de rato verde e voar de dentro da barriga cor-de-rosa da cobra de óculos escuros o mais rápido possível.

Em sua afobação para sair da goela da Cobra Cor-De-Rosa Com Óculos Escuros, porém, nosso atrapalhado Rato Verde Com Asas voou direto para a corcova do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes, atingindo-a em cheio com um baque surdo.

E foi então que tudo aconteceu.

A corcova do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes era, na verdade, o botão de acionamento de uma bomba relógio poderosíssima enviada pelo Povo Inimigo Mortal Dos Girassóis Dançarinos De Salsa do planeta Sênmsens Suallgûmm para acabar com o campo de Girassóis Dançarinos De Salsa.

Acontece que, como você deve se lembrar, ou não, os Girassóis Dançarinos De Salsa já haviam sido expulsos desta história nonsense um pouco mais cedo, fazendo com que o Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Na Verdade Era Uma Bomba Relógio, um tanto quanto desapontado, seguisse seu rumo pedindo desculpas à Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros e ao Rato Verde Com Asas por interromper seja lá o que eles estivessem fazendo e fosse explodir sozinho e melancólico num campo de nabos saltitantes.

Depois de toda esta situação complexa e absurda propiciada pelo Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Na Verdade Era Uma Bomba Relógio, O Rato Verde Com Asas acabou se tornando, contra todas as expectativas e apenas para deixar esta história ainda mais nonsense, um grande amigo da Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros.


E os dois, desde então, jogam truco e bebem cerveja todas as quintas-feiras em companhia das Cinzas Chamuscadas Do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Um Dia Foi Uma Bomba Relógio e do Grande Provedor Dos Campos Girassoleianos - que, na verdade, não era provedor de girassol coisa nenhuma e estava só fazendo um bico nesta história para pagar a conta de luz atrasada do mês passado.

Fim.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Viagem Psicodélica Pós Quase Término Dos Trabalhos Finais

Escrevi esta história durante um surto de fim de semestre no primeiro ano de faculdade. Como estou passando por algo parecido esta semana e estou totalmente sem tempo de escrever qualquer coisa que não seja a forma de representação de mundo dos telejornais e a crítica modernista no século dezenove, publico-o aqui para apreciação geral da nação.

Aviso: Melhor visualizado sob o efeito de psico-ativos.

***

Estava eu dançando em um grande salão iluminado por fachos de luzes multicoloridas uma dança psicodélica ao som de Pink Floyd tocado por uma vitrola imaginária controlada por uma joaninha de óculos escuros cor-de-laranja.

- Quem pensou que tinha sentado no nabo no trabalho de Brasil Colonial?! – disse para mim mesma, dando um rodopio - Já é! Já é! Ninguém virou jantar, uh-uh! Ninguém virou jantar, uh-uh!

Saltei um duplo twist carpado e imitei uma dançarina de Hula-Hula.

- Hohohoho... PASSEIIII... sete no trabalho, oito na prova... uoooohhh! – gargalhei, andando como egípcia e balançado a cabeça loucamente - Sim, agora só falta saber como fui nas outras...

A música diminuiu.

- E terminar (ou começar) o trabalho de Ibérica...

A música cessou por completo.

- Que, aliás, é pra amanhã!

Estaquei no meio da sala e as luzes coloridas se apagaram, dando lugar a um irritante holofote com uma irritante luminosidade cujo irritante facho estava de uma forma particularmente irritante apontado para mim.

- AAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!! – não pude deixar de gritar, quando a joaninha de óculos escuros cor-de-laranja aumentou de tamanho e virou um enorme e terrível Gil Vicente com dedo em riste e expressão acusadora.

Tentei fugir, mas o chão abaixo de mim começou a dissolver-se e sugar-me feito areia movediça. Berrei outra vez, desesperada, arrancando os cabelos em uma busca frenética e vã de sair dali.

- A sociedade portuguesa desse período de monarquia absoluta – disse o monstruoso rosto de Gil Vicente no mesmo instante em que começava a ficar loiro e parecer-se com o Lenine - aparece com as viagens de descobrimento e a fixação do além-mar e termina, em boa parte, no final do século XVIII e com as revoluções liberais do começo do século XIX.

- AAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRRREEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!

O chão de areia-movediça estava me puxando cada vez mais para baixo, eu estava quase sufocada. Foi quando uma lagarta bigoduda veio navegando numa nau portuguesa do século XVI e parou ao meu lado.

- A senhora por acaso precisaria de ajuda? – perguntou-me do alto de seus bigodes pretos.

- Ah, não, não; imagina! Estou onde todo mundo sempre quis estar, não é?, sendo sugada por um chão de areia movediça! Quero dizer, é o sonho de todo mundo!

- Bem, para falar a verdade eu nunca sonhei com isso – ela me respondeu com uma sobrancelha erguida – Eu sempre sonhei que virava uma borboleta barbada e podia acampar no deserto do Atacama.

- É mesmo? Que interessante!

- Pois é. No Atacama, imagina! Bom, mas se você não está com problemas, vou perguntar pra outra pessoa. Desculpe incomodar.

- !!!

- Ah, e quase ia me esquecendo... – ela disse de novo retirando alguma coisa muito grande e muito pesada de dentro do seu bigode – Só pra garantir...

**POF!**

Sim, para os que não entenderam, ela bateu na minha cabeça com aquela coisa muito grande e muito pesada.

E sim, eu, obviamente, desmaiei.

Acordei o que me pareceram horas depois, com uma terrível dor de cabeça e em um lugar absurdamente surreal.

Estava deitada em um pufe macio e amarelo, feito com algum tecido esquisito que parecia ser composto de vários trapos de toalha esfiapados e muito usados.

Uma luz dourada iluminava um salão terrivelmente colorido, onde vários discos de vinil planavam felizes e esborrachavam-se uns nos outros.

No teto abobadado, pinturas renascentistas de anjos acenavam e piscavam os olhos para mim enquanto diabinhos fluorescentes espetavam-lhes as costas.

Tocava Beatles.

Levantei-me perguntando onde diabos estaria, e no mesmo instante um disco de vinil particularmente feliz deu um rasante muito próximo a mim, fazendo-me mergulhar de cara no chão.

Fechei os olhos, pressentindo a colisão com o frio piso de pedra cintilante que piscava a intervalos totalmente irregulares, mas a colisão não aconteceu.

Continuei de olhos fechados.

Já estava ficando de saco cheio dessa história surrealista, parecia uma viagem ácida, e eu estava totalmente sóbria!

Ok, estava um pouco fora de mim com a paranóia do trabalho que precisava terminar até a tarde seguinte, mas isso não poderia ser a causa de discos de vinil voadores, uma lagarta bigoduda e Gil Vicente virando minha professora de Ibérica.

E aquela dor de cabeça era muito, muito real!

Ora, pipocas! Eu precisava descobrir onde estava! Precisava sair dali! Precisava terminar o trabalho! Precisava ganhar na loteria! Precisava viajar o mundo inteiro! Precisava conhecer o Johnny Depp pessoalmente! Precisava... abrir os olhos, diabos!

Relutantemente, os abri.

O mundo (ou o que parecia ser uma cópia muito bizarra dele) dissolveu-se na minha frente, um tipo de escritório de redação de jornaleco se materializou e a lagarta bigoduda que me deu uma marretada na cabeça surgiu de trás de um ficheiro velho e mofado.

- Ora, a mocinha acordou! - disse ela - Tudo bem?

- Não.

- Que bom! – ela abriu um sorriso radiante, e em seguida franziu as sobrancelhas - Desculpa ter te tirado do seu sonho de areia movediça, mas, sabe como é, eu só trabalho aqui.

- ...

- Meu chefe já tá vindo aí, aí você fala com ele pessoalmente, tá?

- ...

- Por quê você não senta? - disse, apontando uma cadeira de praia de listras brancas e vermelhas e servindo-me uma bandeja com copinhos coloridos enfeitados com mini guarda-chuvas - Tome um suco, também.

Aceitei o suco. Estava ficando impaciente, a última vez que saí para uma viagem tão surreal quanto aquela as coisas não se sucederam de maneira muito agradável pra mim, no final das contas.

Ouvi então um barulho estrondoso de galope de cavalos, e o que me pareceram trombetas angelicais soaram.

- Oooooooláááááááá - disse uma coisa muito luminosa que entrou pomposamente no escritório, com uma voz em trovão.

- Ei chefe! Ela acordou! - disse a lagarta bigoduda.

A luz se apagou, revelando uma figura muito gorda trajando paletó e chapéu de mafioso.

- Ah, sério?! - disse o gordo de chapéu - Não me diga! Ora, pois me diga alguma coisa mais útil da próxima vez!

- Desculpa, desculpa, chefinho!

- Tá, tá. - a figura enorme voltou-se para mim - Desculpe, Karol. Ele estragou minha entrada triunfal, eu tinha até comprado um holofote pra fazer bonito, mas... enfim, não importa. Essa mosca do cocô do cavalo do bandido do filme de caubói americano contou-lhe o porquê de estar aqui?

- Ah... não... - respondi, meio desnorteada. Primeiro personagem maluco que eu encontrava e realmente sabia meu nome! - Como você...

- Ora, obviamente eu sei o seu nome! Você não sabe o seu nome? Eu posso dizê-lo para você, você se chama Ana Carolina, mas é mais conhecida como Kar...

- Eu sei o meu nome, obrigada.

- Então não há com o que se preocupar! Pois bem, então. Já que esse estrupício não lhe contou, terei eu mesmo que fazer o trabalho sujo.

A figura empinou o peito e pareceu ficar ainda mais enorme.

- Você está aqui exatamente pelo fato de estar aqui. Se você não estivesse aqui, não estaria, concorda?

Puxa, que grande revelação! Como não pensei nesse motivo antes?

- E o fato de você estar aqui - continuou pomposamente - significa que você não bate bem das idéias e precisa de um descanso.

Outra grande revelação. Francamente, eu ainda tinha que terminar o meu trabalho!

- Sim, sim, ok - falei - Mas acontece, enorme figura de paletó e chapéu de mafioso, que eu realmente preciso ir embora, certo? Tenho um trabalho para terminar e...

- Ora, justamente! Eu tenho a solução para isso! E você sabe que eu tenho, por isso veio até aqui.

- Na verdade eu vim porque aquela lagarta me deu uma cacetada e me trouxe para cá.

- Eu só trabalho aqui! - gritou a lagarta de trás de uma árvore de Natal.

- De qualquer forma, eu tenho a solução para seu trabalho - o cara gordo de chapéu de mafioso abriu uma gaveta verde-musgo de uma escrivaninha sorridente e tirou de dentro dela um frasco multicolorido e fumegante - Beba.

Ah, claro. Iria beber aquilo, sim. Com certeza.

- Obrigada, não estou com...

- É uma mistura mágica de ervas e absinto com aroma de limão, não há com o que se preocupar.

- Ah... então... você disse absinto?

Bem, aquilo não podia ser tão ruim, não é? Bebi.

Em seguida a lagarta bigoduda voou na minha direção e ficou pequenininha, entrando pelo meu ouvido.

As imagens ao meu redor começaram a parecer que eram feitas de vidro, vidro este que se estilhaçou em mil pedaços e derreteu em mil cores até tudo ficar branco, ofuscantemente branco.

Enquanto isso, pensamentos que nunca me ocorreram antes brincavam de ciranda-cirandinha em meu cérebro.

Tive um relance do sentido do Universo, foi-me visível a única forma de se acabar de vez com a fome e a desigualdade do mundo, pude compreender como funcionam as religiões e seus deuses, descobri o que era Deus, soube que o mundo ia acabar e que existe vida em outros planetas, pude perceber o quão ínfimo é o ser humano, quantos atos grandiosos foram vãos, como eu não sou nada e como o nada é tudo e o tudo é grande demais pra ser apreendido.

Todas as revelações possíveis me foram feitas, e eu senti que não poderia agüentar, que meus miolos estavam prestes a sublimarem em minha cabeça.

A lagarta bigoduda apareceu girando em espirais na minha frente, dizendo com voz fantasmagórica:

- Escolha... esqueça... escolha... esqueça...

Precisei ser rápida e forçar minha mente a esquecer toda a essência do que estava sendo revelado. Só podia manter comigo...

Uma luz piscou, eu fui jogada por uma janela e estava em meu quarto, sentada na frente do computador, com brilhantes (ou nem tanto assim) idéias para serem escritas em meu ensaio sobre Gil Vicente e a sociedade portuguesa em sua obra.

...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre Quando Conheci Os Seres De gravatas Púrpuras

(Aqueles que me conhecem há mais tempo já ouviram esta história. Publico-a aqui, reciclada e reescrita, porque... bem, e porque não? :P)
...

Certa noite fui abduzida por alienígenas. 


Lá estava eu, calmamente fumando um cigarro em minha varanda quando notei algumas luzes piscando ao longe no enevoado céu de São Paulo. Logo pensei ser um relâmpago, mas, bem, relâmpagos são brancos, não púrpuro-berrantes. Talvez fosse um avião. Mas aviões também não tem essa cor. Ou tem?

— Huuuum! — pensei, sorrindo — Quem sabe é uma nave espacial! Seria divertido conversar com uns alienígenas, assim, pra variar... olha, se vocês quiserem vir aqui trocar uma ideia comigo podem vir, viu, eu...  — continuei, em voz alta, fazendo uma piada comigo mesma.

Alguns segundos depois, parada em pleno ar na frente da varanda do meu apartamento, havia uma pequena nave verde-limão em formato de ovo, com faróis de cor púrpura berrante e uma pequena janelinha de vidro de onde algumas formas escuras observavam-me com interesse.

Segundos depois, uma dessas formas escuras abaixou o vidro da nave e apontou-me uma pistola cor-de-abóbora cheia de protuberâncias arroxeadas.

Segundos depois, eu estava inconsciente.

Quando finalmente acordei, vi-me deitada num luxuoso canapé vermelho que ficava encostado à parede de um quarto deveras aconchegante onde havia uma lareira, um tapete verde musgo, estantes de livros e música ambiente.

Pisquei os olhos algumas vezes. Aquilo não era possível, eu devia estar sonhando. Ou alucinando. Como eu havia ido parar ali? Por que eu estava ali? Onde, diabos!, era ali?

Levantei-me cautelosamente e, assim que o fiz, as luzes piscaram todas e o quarto se dissolveu como que num caleidoscópio, dando lugar a uma sala de controle tipicamente alienígena com botões tipicamente alienígenas e seres tipicamente alienígenas vestindo gravatas púrpuras tipicamente alienígenas.

- Ok. Não entre em pânico, Carolina, não entre em pânico... - pensei, prestes a, de fato, entrar em pânico.

Eis, então, que um daqueles seres tipicamente alienígenas virou-se vagarosamente em minha direção, abriu sua enorme boca cheia de dentes fosforescentes e disse:

- Ahn... é... a senhorita gostaria de uma xícara de café?

- !!!

Eu fiquei completamente embasbacada. Estava em uma nave alienígena tendo um contato de quarto grau com seres extraterrestres que estranhamente sabiam falar português e tudo o que eles me disseram foi: a senhorita gostaria de uma xícara de café?!

Quem diabos seriam aqueles caras? Por que eles me trouxeram a bordo de sua nave? Onde estariam indo? Como, por Zeus, eles sabiam falar português?

O estranho ser continuava a fitar-me com seus imensos olhos de bolas de tênis. Seu braço seguia estendido em minha direção com uma xícara de porcelana chinesa na mão. Ai, cacete, e agora, o que cargas d'água eu devia fazer?

Resolvi, então, aceitar a oferta, uma vez que, talvez, uma recusa pudesse ser vista como ofensa por parte dos meus anfitriões. Bebi, então, um pequeno gole do líquido preto, rezando por dentro para que aquilo fosse realmente o que conhecemos na Terra como café. 

De fato, para minha alegria, era café. E não estava nada mal, na verdade, só ligeiramente morno.

- É... - tentei um contato.

- Silêncio! - disse outro Ser, levantando-se e subindo em um banquinho - Saudações, terráquea - continuou - Leve-nos ao seu líder!

Oi?! Leve-nos ao seu líder?! Pohan, como assim? Essa era realmente a última coisa que eu esperava ouvir de um ser alienígena. Talvez eu estivesse em um filme de ficção científica de quinta categoria e não soubesse ainda. Onde estariam as câmeras?

- Hã... líder...? - balbuciei sem saber o que responder.

- É, mina! Líder! Tá ligada aqueles caras que comandam tudo, que são os reis da parada? Os fodões, saca?

Tive que esperar alguns minutos para digerir aquelas palavras, mais especificamente aquele linguajar. Os etês eram manos, rappers, então. Que coisa. Quem diria.

- Ahm... seguinte, mano... - comecei, tentando entrar no clima - a parada é que não têm líderes nessa joça, tá ligado? A não ser que vocês estejam querendo falar com o presidente dos Estados Unidos, saca, ele não é o fodão, manja, mas sempre acha que é.

- Ah... - os seres ficaram um momento em silêncio, sem saber como continuar.

- É o seguinte, terráquea - começou outro deles - Nós viemos em paz...

- Não, não, NÃO! - gritou o que ainda se encontrava em cima do banquinho - Tá tudo errado, não é desse jeito que se aborda um terráqueo! Vocês não se lembram do filme? Não era nada disso, não! E você, Mano Brown - continuou, virando-se para o que falava com vocabulário rapper mano - Será que dá pra parar de falar como os terráqueos do filme estúpido que você não pára de assistir?

Minha cabeça começou a girar. Só podia estar alucinando. Olhei em volta e notei algumas fitas de vídeo jogadas a um canto, cópias dubladas de filmes B de alienígenas e um ou outro vídeo dos Racionais MC’s e do Marcelo D2.

- Certo, isso explica muita coisa - pensei com meus botões - Os etês viram essas fitas, aprenderam o português de mano e tentaram um contato. Ah, é claro. Plausível. E o fato de que eu devo estar completamente alucinada, doida varrida e variada das idéias também.

Os tais seres com gravatas púrpuras entreolharam-se sem saber o que dizer. Eu estava meio zonza. Pensei então que, se estivesse de fato alucinando, o melhor a se fazer era entrar de cabeça na alucinação e deixar que ela se desgastasse por si própria. Ou não. Acontece que a única coisa que eu sabia naquele momento era que não sabia era de nada e, portanto, resolvi ser muito mais fácil entrar na onda dos etês e deixar para perceber que tinha ficado louca depois de descobrir em que maldita confusão eu havia me metido desta vez.

- Aí, pessoal - comecei, juntando os últimos traços de eloqüência que me haviam restado - E então, o que vocês gostariam de mim, exatamente?

- Ah, puxa, achei que fosse óbvio! - respondeu o ser do alto do banquinho - Queremos analisá-la, estudá-la e catalogá-la como amostra do espécime humano!

Epa. Aquilo definitivamente não era nada bom.

- Oi?! Como assim?! - exclamei, indignada.

- Hã... - começou outro dos seres, visivelmente constrangido - não é isso o que extraterrestres fazem?

Eu senti que não iria aguentar aquilo por muito mais tempo. Havia alguma coisa muito, mas muito errada ali, e não era só a minha cabeça. Será que aqueles seres estariam sofrendo de algum tipo de amnésia?

- Então - eu falei - Na verdade, extraterrestres não fazem nada disso, não... Achei que vocês soubessem, uma vez que vocês mesmos são extraterrestres, que esses filmes que vocês têm assistido são só ficção, sabe? Bobagenzinha pra diversão de final de semana, essas coisas...

- Ah, é mesmo? Puxa, sabe, é que estamos passando por alguns problemas de memória ultimamente, você entende? Não conseguimos nos lembrar direito o que foi que aconteceu, só que estávamos aqui nas proximidades desse planeta azul quando perdemos a memória, e aí para passar o tempo resolvemos arranjar alguma coisa para fazer, sabe, foi quando conseguimos essas fitas, e tal...

- Ah, eu entendo perfeitamente - eu disse - Mas é justamente isso o que os extraterrestres de verdade fazem, sabia? Digo, observar os terráqueos de longe, manter o mínimo contato possível, aprender sobre eles à distância...

- Aí, truta, quer dizer então que a galera aqui tava tudo no caminho certo sem saber, mano! - disse o tal Mano Brown - Curti, mina, tu é firmeza! - e continuou, virando-se para o outro - Aí, acho que é melhor mandar a princesa de volta pra casa, né não, véio?

- Só. Desculpe-nos, terráquea. Fique em paz.

E, no segundo seguinte, eu estava em casa mais uma vez.

...

terça-feira, 12 de junho de 2012

Considerações de um Gato e sua Cartola

Em uma tarde ensolarada, um Gato e sua Cartola resolveram sair para um passeio vespertino.

De mãos dadas, observando a Dança da Chuva das Gaivotas em frente ao Monumento Nacional dos Berguelotes, perceberam finalmente o quão mundano o mundo é.

Voltaram para casa às cinco em ponto, batendo o ponto dos cinco condes desfigurados que viriam para tomar chá de boldo e espanando as últimas metafísicas poeirentas do busto do Rei Salomão.

Enquanto comiam bolinhos de limão com açúcar e bebiam cogumelos doces, surgiu o assunto que tanto os afligia:

— Já reparou em como o nosso jardim anda preto e branco?  —  perguntou a Cartola, acendendo um cigarro.

— Ora essa, eu pensei que andassem com muletas — respondeu o Gato, erguendo uma sobrancelha  —  Você não engessou ou girassóis e as violetas na semana passada?

— Engessei  —  respondeu a Cartola, soprando pequenos anéis coloridos de fumaça  —  Acontece que eles perderam a cor.

— Sim —  disse o Gato, bebendo um gole de seu chá pensativamente —  Pelo menos as flores sem cor têm perfume.

Silêncio.

— O que será que pensa uma borboleta preta?

...