segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um breve conto de fadas


Há muito, muito tempo, em uma distante e longínqua planície localizada além do bosque dos gnomos cor-de-abóbora e a noroeste das montanhas geladas do sul, havia um pequeno vilarejo tranquilo e delicado onde todos os que lá viviam conheciam-se e eram amáveis uns com os outros.

Todos exceto Adamastor, O Terrível.

Adamastor, O Terrível, era um forte e peludo homem de olhos frios e cinzentos e emaranhada barba negra como a noite que possuía especial apreço por amedrontar o resto da população com o objetivo de obter fama, poder e, por que não?, ouro. Muito ouro. Os comerciantes eram, em geral, suas principais vítimas. Gostava de ver o terror nos olhos dos miúdos senhores donos de padarias, açougues, tabernas e mercearias quando aparecia para cobrar sua taxa mensal pela segurança dos estabelecimentos. Gostava do tinir das moedas douradas quando estas eram passadas para suas enormes mãos calejadas. E gostava ainda mais quando os proprietários não possuíam dinheiro suficiente para lhe pagar e ele podia descontar sua raiva cega pela humanidade destruindo tudo o que encontrava pela frente. Alguns já haviam tentado se rebelar, é verdade; mas apenas a visão de seus músculos muito bem cultivados e sua terrível expressão de fúria já funcionava como excelente barreira contra quaisquer reclamações.

Ninguém nunca tivera coragem para enfrentar-lhe no corpo-a-corpo.

Nunca, até aquele fatídico dia.

Era uma fresca e ensolarada manhã de outono e Adamastor havia levantado-se da cama particularmente bem-humorado. Era dia de cobrar a taxa de segurança da taberna do Senhor Rufus Roffinsthëin, o mais assustadiço e enrugado de todos os donos de estabelecimento da pequena vila. E o Senhor Rufus quase nunca possuía a quantia de ouro necessária para o pagamento, o que significava, que beleza!, que muito provavelmente ele iria, em breve, quebrar muitas coisas caras e essenciais para a vida de outra pessoa. Pensar sobre isso fez com que abrisse um largo sorriso enquanto caminhava até a dita taberna.

- Bons dias, meu caro Rufus!! - disse Adamastor, dando um forte pontapé na porta de madeira ao entrar - Como vamos hoje? O movimento tem sido bom?

- Ah! O-o-oi A-da-da-m-m-mas-s-s-stor-r! É, b-b-bem, tá b-b-bom, s-s-sim... - gaguejou o velho Rufus.

- Que bom, que bom! - disse Adamastor, flexionando os dedos - Será que isso significa que este mês você vai me pagar tudo o que deve?

- E-e-eu... A-a-a-da-da-m-m-mas-t-t-tor... eu...

- Ah, mas que pena, heim? - respondeu Adamastor balançando a cabeça - Isso é triste. Você sabe o que eu preciso fazer se você não pagar, não sabe? - continuou, empurrando para o chão todas as garrafas e copos que localizavam-se acima do balcão - Que pena, que pena...

Adamastor começou a derrubar as prateleiras uma por uma. Quando chegou ao balcão que havia próximo a cozinha, porém, parou subitamente. Um rosto fino de mulher observava-o a um canto. Ele não a conhecia. E ela era linda.

- Quem... quem é essa moça? - perguntou Adamastor, embasbacado com a beleza da jovem.

- É-é-é m-m-mi-n-n-nha... - começou Rufus, mas foi interrompido pela própria dona do rosto.

- Sou Lilhium. Lilhium Salvatori. E este lugar que você está colocando abaixo é a taberna do meu tio.

A moça era realmente muito bonita. Possuía compridos cabelos negros e vivíssimos olhos de um verde tão claro quanto a cor das copas das árvores ao amanhecer. Provavelmente era estrangeira, uma vez que Adamastor não a conhecia. Mas se era sobrinha do velho e caquético Rufus...

- Ora, ora, ora - começou Adamastor, desviando os olhos da moça e focalizando Rufus - Meu querido Rufus - continuou, encostando nos ombros do velho - Estou pensando cá com os meus botões, talvez possamos resolver a questão do seu pagamento de alguma outra forma.... – e olhou significativamente para a garota.

- O quê? - disse Lilhium indignada – Você está achando que sou algum tipo de mercadoria de troca?

- Acalme-se, docinho, ainda não estou falando com você - respondeu Adamastor. Mulheres não deveriam ser capazes de falar, já que não o eram de pensar - O que você me diz... - começou a perguntar ao velho Rufus.

- Você me chamou de "docinho"? - interrompeu Lilhium entredentes - Eu vou lhe mostrar quem diabos é um docinho.

- Oh! - sorriu ironicamente Adamastor. "Mulheres", pensou - Como é bravo este docinho! Eu vou só...

- VÁ SE FODERRR!

E o "docinho" desceu o cacete em Adamastor, O Terrível. Em verdade, o peludo homem se valia mais do terror que inspirava do que de sua força em si para conseguir o que queria. Nossa heroína, que aprendera as artes marciais no tempo em que viajara pelo Oriente do mundo, acabou habilmente com toda e qualquer prepotência do malvado vilão.

Depois deste fatídico acontecimento o vilarejo festejou três dias e três noites em honra a Lilhium, a Para O Diabo Com Docinhos, ergueu uma estátua em sua homenagem no centro da praça e todos viveram felizes para sempre.

(Bem, todos exceto Adamastor, O Que Outrora Fora Terrível E Agora Descobrira-se Ser Um Verdadeiro Covarde, que caiu em desgraça devido à surra que levou de "docinho" e foi viver como eremita vegetariano em uma caverna nas profundezas das Montanhas Geladas.)

E fim.
...

XD

Um comentário:

  1. Lilhium mandando um "VÁ SE FODERRR"! Fantástico! ahhahahaahha A pior parte do castigo do Adamastor foi viver como vegetariano! rs

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