domingo, 20 de maio de 2012

O Primeiro Beijo


A garota permanecia parada no jardim, as mãos pequeninas suando frio e as pernas ligeiramente tortas tremendo levemente. Percebia as figuras imóveis à sua volta, bancos e mesas misturando-se às plantas na escuridão iluminada apenas pela lâmpada elétrica acima da sua cabeça. Ouvia os risinhos femininos abafados vindo por todos os lados, mas fingia não saber do que se tratava.

Enfiou às pressas uma bala de menta na boca, enquanto tentava o mais dissimuladamente possível controlar os pensamentos frenéticos que lhe assaltavam o cérebro. Esperava por aquele momento há tanto tempo e, finalmente, aquele seria o dia! Por tantas vezes havia visto nos filmes e novelas aqueles beijos dos casais apaixonados, sonhando com o dia em que... e ela já era quase uma moça, havia acabado de completar seus doze anos!

Aquela festinha não fora por acaso. Tivera todo o cuidado de planejá-la com antecedência, com a ajuda de suas melhores amigas, para que caísse no dia certo em que ele pudesse comparecer. Arranjaram CDs de música para se dançar pertinho, fizeram bailinho, tudo conforme o figurino. Ela se arrumara como quase nunca fazia, passando batom, repartindo o cabelo encaracolado em duas tranças, escolhendo sua melhor roupinha. Até então ia tudo de acordo, eles já haviam dançado, já haviam conversado, suas amigas já haviam falado com os amigos dele...

E ali estava ele, bem à sua frente.

Seu pequeno pé batia insistentemente no chão, acompanhando o descompasso acelerado de seu coração. Começou a brincar com o cabelo numa vã tentativa de esconder a timidez, pensando em alguma coisa para dizer-lhe enquanto tentava tomar coragem para olhar bem diretamente para aqueles olhos tão bonitos e tão simpáticos. Sua voz, porém, parecia ter tirado férias, enquanto seu olhar parecia ter sido irremediavelmente hipnotizado pelo botão amarelo da camiseta do garoto.

Endireitou sua blusinha cor-de-rosa, então, ao perceber que seu acompanhante prendia a respiração e dava um passo incerto em sua direção. Enrubesceu, olhou para o lado; seu hálito de hortelã misturava-se agora por completo com o perfume cítrico do menino. Via que suas cabeças agora aproximavam-se cada vez mais. A cada segundo ficavam mais próximas. Um leve arrepio percorreu-lhe a espinha. Estavam cada vez mais próximos, cada vez mais próximos... podia contar as sardas do rosto dele, se quisesse... mas, é claro, preferiu fazer outra coisa.

...

(São Paulo, 09 de dezembro de 2008)

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