terça-feira, 31 de julho de 2012

Os Duendes Da Lua, Capítulo III - A Reconciliação

(Primeira parte AQUI e segunda parte AQUI)

Seres Mágicos Primordiais festejando a vitória épica contra os Terríveis
Goblins Ûhrks segundo VISHMARIAH, José Saltimbanco em Breve, ou
nem tanto assim, História das Eras Duendes
- Ed. Nonsëhnse,
Porão Vermelho, 1999 E. H.

Durante a tenebrosa Awû Oöhkumm, ou Era Sombria, Ròhlumm Abdä, Primeiro Goblin Ûhrk, então Imperador Único E Todo Poderoso De Todas As Terras Outrora Pertencentes À Grande Fÿhllirën Em Nome Dos Goblins Oprimidos E Vilipendiados, governava com mão de escamas a maior parte das terras dos antigos povos mágicos primordiais.

Com suas palavras mais doces do que doce de batata doce e seu olhar mais hipnótico do que espirais pretas-e-brancas girando ininterruptamente, o famigerado goblin, após conseguir bravamente que os únicos seres que seriam realmente páreo para ele próprio fossem exilados em outro mundo, conquistou facilmente todos os reinos mágicos mais importantes e submeteu-os à sua ditadura de terror[1].

Enquanto isso, os decadentes duendes da extinta Grande Fÿhllirën, banidos por tempo indeterminado no Satélite Que Refletia A Luz Branca Da Estrela Amarela, ainda abatiam-se uns aos outros desesperadamente no que foi chamada de Sangrenta E Completamente Inútil Guerra Entre Os Dois Clãs.

Por três primaveras lunares o fratricídio durou, até o dia em que os líderes mais sensatos dos Rödhån e dos Köhkånn, durante um embate particularmente ardente em terreno pedregoso, decidiram, em uma epifania propiciada pelo aroma inebriante de algumas ervas presentes no local e queimadas durante a batalha, que talvez fosse melhor - para que não acabassem se tornando os últimos seres de sua própria espécie - resolver as diferenças entre os clãs jogando uma bela partida de bocha[2].

No dia seguinte, quando os duendes Rödhån venceram disputadamente a tal partida, ficou acordado entre os membros de cada um dos dois clãs que todas as terras pertencentes à zona iluminada do satélite seriam de domínio da facção vencedora, enquanto aquelas situadas na zona sombria passariam a pertencer aos Köhkånn.

A Guerra Do Satélite Que Refletia A Luz Branca Da Estrela Amarela finalmente acabara e os Duendes da Lua puderam, enfim, voltar a viver em paz e harmonia uns com os outros.

Na Terra, porém, nada havia mudado. O terrivel Ròhlumm Abdä ainda conservava todo o poderio mágico dos reinos ocidentais e proibia qualquer ser místico de assobiar músicas melodiosas, pular em um pé só ou usar biquínis de bolinhas amarelas.

E desta forma foi por pelo menos mais duas primaveras, até o dia que ficou conhecido como O Dia Em Que Os Espíritos Finalmente Tiraram Suas Bundas Gordas Dos Seus Sofás E Resolveram Fazer Alguma Coisa, quando as Vozes de Energia e os Deuses Telúricos juntaram-se para pedir ajuda aos únicos seres que poderiam de alguma forma derrotar Ròhlumm Abdä e seus mal-cheirosos goblins Ûhrks: os Fÿhllum Röåkhm, ou Duendes da Lua[3].

Com promessas de mundos e fundos, os Espíritos da Terra imploraram aos duendes exilados que intervissem com sua sabedoria milenar naquela horrenda guerra que consumia por completo o pobre planeta Terra.

- Ah, mas não são vocês os tão famosos Espíritos da Terra, autoridades máximas em matéria de magia, energia e arrogância? O que aconteceu com toda aquela prepotência mística, heim? Não conseguem derrotar sozinhos uma merda de um goblin escamoso e fedorento? - perguntou Cëdrykh Munn, O Revoltado, ancião mais velho do Conselho Rödhån e um dos muitos duendes que ainda guardava na memória a vergonha da proscrição.

- Estamos fracos, nobre Cëdrykh. Ròhlumm destruiu nossos bosques sagrados e ergueu templos em nome de seus deuses em seus lugares. A maioria dos Seres Mágicos Primordiais sob influência goblin adora, agora, as Entidades Dos Pântanos Enlameados. Nós fomos deixados de lado.

- Bem-feito para vocês.

- Precisamos de ajuda. A Terra foi lar de vocês um dia, não podem deixá-la perecer desta forma. Em nome dos Dourados Dias Antigos, da Era Colorida Da Harmonia, do Período Em Que Todos Se Amavam, da...

- Puta-que-o-pariu? - cuspiu Cëdrykh.

- Acalme-se, Cëdrikh - interviu Allÿsha Ökhw, governante dos Köhkånn, conhecida nacionalmente pelo poder da diplomacia - Talvez nós possamos ajudar, sim - continuou, dirigindo-se aos Espíritos da Terra - Mas queremos algo em troca. A dor do exílio ainda pulsa nos corações de muitos de nós.

- Sim, obviamente - responderam as Vozes Telúricas e os Espíritos de Energia - Poderão voltar a viver na Terra assim que tudo terminar.

- Voltar para a Terra? Depois de tudo o que fizemos para tornar este lugar horroroso habitável? - desdenhou Cëdrykh - Que tipo de oferta é essa, pelo amor da Entidade Criativa Que Ficou Entediada E Resolveu Criar Coisas Bacanas Do Nada Para Passar O Tempo!

- Terão seus poderes triplicados, e cada um dos indivíduos dos dois clãs receberá um dom especial relacionado ao território em que hoje vivem neste satélite. Terão, ainda, imunidade contra qualquer acusação divina pelo período de cinco anos e permissão para perambular entre as dimensões de tempo e espaço gratuitamente.

- Não vejo nenhuma vantagem em tanto blábláblá burocrático.

- Poderão, também, ter acesso a todo o estoque mundial dos Chocolates Divinos Outrora Reservados Apenas Às Entidades Etéreas.

- Inclusive os meio-amargos com pedacinhos de banana caramelada?

- Inclusive os meio-amargos com pedacinhos de banana caramelada. Fechado?

- Fechado! [4]

Os Fÿhllum Röåkhm formaram, então, um numeroso exército duêndico e teletransportaram-se para a Terra no dia do Solstício de Inverno, enquanto as Vozes Telúricas e os Deuses de Energia depositavam, não sem pesar, em solo lunar, todo o delicioso estoque de Chocolates Divinos Outrora Reservados Apenas Às Entidades Etéreas.

Uma sangrenta peleja épica ocorreu naquele dia, posteriormente conhecida como Peleja Épica E Sangrenta, e os Goblins Ûhkrs estiveram bem próximos da vitória, não fosse a corajosa duende Rowënna Ezpafdha começar a assobiar a antiga Balada De Galahar durante o anoitecer. Tal feito fez com que Ròhlumm Abdä começasse a ter espasmos alucinados de loucura e deixasse o campo de batalha babando e arrancando os cabelos, sendo seguido rapidamente por toda sua horda de goblins mal-cheirosos. O Primeiro Goblin Ûhkr foi posteriormente julgado pelas Altas Entidades e condenado a passar um ano e um dia assobiando músicas melodiosas enquanto pulava em um pé só vestindo um biquíni de bolinhas amarelas[5].

Com a vitória, os Seres Mágicos Primordiais e os Espíritos da Terra puderam, enfim, voltar a viver pacífica e harmoniosamente no planeta Terra e os Fÿhllum Röåkhm, os Duendes da Lua, recuperaram seu prestígio e poder entre os povos, reassumiram seus cargos no Conselho De Segurança Mágica Inter-Temporal e empanturraram-se enjoativamente com todo o Chocolate Divino Outrora Reservado Apenas Às Entidades Etéreas que suas barrigas puderam aguentar.

...

NOTAS:

[1] PACHECO, Salazar Monteÿn & PORLAHZ, Clarabel Ovídia - A Espécie Vilipendiada: os Goblins Ûhrk e suas contribuições para o Reino Mágico - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

[2] ARANDHLEENA, Wenceslau - Sangrenta E Completamente Inútil Guerra Entre Os Dois Clãs: Tudo se resolve com uma partida de bocha - Editora Séria, Lago Queimado, 585 N. E.

[3] TITITHU, Balaléa - Espíritos Da Terra: Poderosas Entidades ou Grandes Bundões? - Editora Céltica, Avalon, 1999 E. H.

[4] Diálogo reconstituído a partir de uma sessão espírita mágica inter-temporal presente em DONNAN, Zavier - Fragmentos Espirituais Das Eras Passadas - Editora Obscura, Lado Negro Da Lua, 2011 E. H.

[5] QUEQUHEHISS, Denise Samaritana - Os Assobios Alucinógenos e a Peleja Épica E Sangrenta - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

...

FIM.

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