segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Reflexões de uma lagartixa


A lagartixa permanecia estática no alto da parede, observando com parco interesse os movimentos randômicos daqueles enormes seres desengonçados que perambulavam pelo recinto.

Que diabos de bichos seriam aqueles?, pensava ela com seus botões. Estavam sempre por aqui, por ali, por qualquer lugar para onde se dignasse a voltar seu olhar. Sempre correndo, apressados, mexendo em papéis coloridos, gritando palavras ininteligíveis uns para os outros.

Qual seria o objetivo da vida daquelas criaturas? Elas apareciam, faziam, aconteciam e desapareciam. E não serviam para absolutamente nada. As lagartixas, pelo menos, viviam a vida da forma como foi feita para ser vivida, ela pensava. Comiam insetos e eram comidas por cobras. E isso bastava.

Aqueles seres, por sua vez, pareciam nunca estar satisfeitos com o que quer que fosse. E tudo parecia girar em torno dos pedaços coloridos de papel que passavam das mãos de uns para as de outros.

Talvez os papéis coloridos equivalessem a bonitas e gordas baratas cascudas, pensou a lagartixa.

Então uma bonita e gorda barata cascuda apareceu, com uma aparência muito mais apetitosa do que a dos pedaços coloridos de papel das criaturas grandes e desengonçadas, e a lagartixa parou de pensar: precisava, mais uma vez, cumprir o seu papel belo no quadro da cadeia alimentar.

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