Fiquei com vontade de reformular as biografias das minhas personagens. Aqui vai a da Gladys, a "quase quarentona bêbada norte-americana que mora num trailler e tem uma penca de filho" XD
Esta aí em cima chama-se Gladys Wellgood. No auge da decadência dos seus trinta e nove anos, mora há quase quinze num trailler no Texas, bem próximo à fronteira com o México, e tem sete filhos; cinco meninos e duas meninas.
Gladys nasceu em uma típica família da periferia norte-americana. Seu pai era revendedor de carros - adquiridos não necessariamente de forma lícita - e sua mãe vendia cosméticos no bairro. Teve dois irmãos, dos quais um foi assassinado por policiais na semana em que completaria dezessete anos e o outro trocou de sexo e casou-se com o pastor da igreja anglicana que sua família costumava frequentar.Ela odiava seu pai, que batia em sua mãe, e odiava sua mãe, que passava a maior parte do tempo completamente alterada pela heroína. Tinha especial apreço pelo irmão mais velho, que morreu, e ignorava totalmente o mais novo, que hoje atende pelo nome de Guinevere.
Quando tinha por volta de catorze anos, seu pai um dia chegou completamente embriagado em casa e partiu para cima dela. Sua mãe gritou, os dois estapearam-se, Gladys jogou uma torradeira na cabeça de seu pai, sua mãe desmaiou e ela fugiu de casa no mesmo dia. Passou dois dias perambulando pelas ruas da cidade bebendo qualquer coisa alcoólica que caísse em suas mãos e fumando tudo o que seus ainda jovens pulmões pudessem aguentar. Voltou quando o dinheiro acabou, mas apenas porque sua mãe, tendo-a encontrado no meio-fio de uma loja de conveniências, implorou de joelhos para que voltasse para casa.
Alguns meses depois, durante a comemoração junkie do seu aniversário de quinze anos na casa de alguns amigos, conheceu Abelardo Castañed, um mexicano charmoso de uns vinte e seis anos. Sua mãe acabara de ser internada em uma clínica para reabilitação e seu irmão morrera há apenas algumas semanas. Resolveu então fugir com o mexicano naquela mesma noite. Nada havia mais para ela naquele lugar.
Gladys morou com Abelardo em seu apartamento por volta de um ano, até engravidar de seu primeiro filho, Evo. Alguns meses após o nascimento do filho, o mexicano um belo dia saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou.
Começou a trabalhar como garçonete em uma lanchonete de estrada para sustentar a si, a casa e ao filho. "Pelo menos tenho um lugar onde morar", obrigava-se a pensar.
Cerca de um ano e meio depois, durante seu expediente de trabalho, conheceu Isaiah Johnson, um sério corretor da bolsa de valores de vinte e cinco anos de idade. Saíram algumas vezes, ele lhe segredou que a amava e que gostaria de criar o filho dela como se fosse seu e casaram-se pouco tempo depois. Ela engravidou após alguns meses de sua segunda filha, a quem deu o nome de Nicole, e eram felizes assim. Havia-se passado cerca de apenas dois anos de matrimônio, porém, quando Isaiah foi assassinado durante um assalto, deixando Gladys sozinha mais uma vez.
Precisando sustentar mais uma pequena boca, Gladys deixava agora seus filhos com Dona Martina, uma senhora que ia quase se decompondo de tantos anos que carregava nas costas, e trabalhava incessantemente em um restaurante barato na borda da cidade. Foi durante este período que começou a beber em demasia e a experimentar psico-ativos mais intensos. Não aguentava ficar tanto tempo longe dos filhos, não aguentava precisar atender clientes estúpidos em troca de alguns trocados, não aguentava aquela merda de vida em que tinha se enfiado. Dona Martina uma vez dissera que aquilo era castigo de Deus pelo seu irmão ter renegado quem era e pervertido um santo homem da Igreja. Levou um soco na boca por isso.
Uma noite, durante seu expediente, alguns dias depois de uma mulher mais velha rodeada por dois homens robustos e mal-encarados aparecer em sua casa dizendo-se esposa legítima de Isaiah e reivindicando o apartamento como seu, Gladys conheceu um homem muito galante e simpático chamado Robert Davish. Ele havia acabado de comprar um trailler, e era absolutamente bonito, gentil e atencioso. Passaram a encontrar-se algumas vezes e, depois que a dita esposa de Isaiah ameaçou-a de morte para que saísse de seu apartamento, resolveram casar-se e mudar para o trailler de Robert. Com ele, Gladys teve seu terceiro filho, Henry. Moraram juntos durante quatro longos e felizes anos, até que Robert descobriu-se gay. Deixou um bilhete dizendo que gostava muito de Gladys, mas que amava outra pessoa. Deixou o trailler e alguns maços de dinheiro para ela e foi embora com o garoto que vendia jornais.
Por dois anos Gladys morou sozinha no trailler com seus três filhos, fazendo bicos aqui e ali para sustentar a família, exagerando na quantidade de álcool e entorpecentes que ingeria e amaldiçoando aquele Deus filho-da-puta que a fazia pagar pelos pecados dos outros.
Nesta época, conheceu Jean Pierre Chevalier, um francês galanteador que prometera levá-la e a seus três filhos para morar na França assim que suas finanças se estabilizassem. Nunca dissera exatamente em que trabalhava, porém. Casaram-se e passaram a morar juntos no trailler que fora de Robert, "só enquanto as finanças de Jean Pierre não se estabilizassem". Mas as finanças nunca se estabilizaram.
Quando Gladys engravidou novamente, após alguns anos de casamento, Jean Pierre achou que o filho não era dele e partiu para cima da esposa com uma garrafa quebrada. Ela e seu filho mais velho atacaram-no com vassouras e pás até deixarem-no desacordado. No dia seguinte, o francês bom-de-bico foi embora para nunca mais voltar. Seu filho que já nasceu sem pai foi chamado de Henri.
Após dois anos de mais labuta, bebidas e cigarros, Gladys conheceu Stephen Bishop, seu atual marido, na festa de aniversário de um amigo de seus filhos. Americano mestiço, ele trabalhava como coiote, transportando ilegalmente mexicanos para território estadunidense. Os dois apaixonaram-se perdidamente, e Bishop foi morar em seu trailler apenas alguns meses depois de se encontrarem pela primeira vez.
Gladys e Stephen estão casados há mais de cinco anos, e juntos tiveram os gêmeos Edward e Edgard e a menina Rebecca. Dão-se bem, e vivem felizes, na medida do possível. Álcool, cigarros e entorpecentes estão sempre presentes, é verdade, mas desta vez Gladys pode dizer com certeza que qualquer coisa como o que alguns chamam de amor também está.
Quero conhecê-la!! rs
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