A mulher sentou-se aflita na cama. Com tal movimento um cheiro adocicado de mofo invadiu-lhe as narinas, fazendo-a perceber que estava num quarto de um motel decadente. Forçando os olhos para enxergar na escuridão, distinguiu o brilho fraco das garrafas de vodka vazias sob a chama da vela. Eram muitas.
Sua garganta começou a queimar. Agora se lembrava. Sentia as lágrimas subindo, mas não podia chorar. Não teria sido um sonho? Abaixou a cabeça e os cabelos claros desgrenhados encobriram sua face pálida. Deu um soluço seco e engoliu o choro.
O homem ao seu lado abriu os olhos e fixou o olhar na figura descabelada da esposa. Ela retribuiu-lhe o olhar, e assim permaneceram por alguns segundos, cúmplices.
Ele virou-se para ela e beijou-a demoradamente. Ela afastou-o em seguida, não conseguiria segurar as lágrimas por muito mais tempo. Levantou-se, ligeiramente enjoada, e por pouco não tropeçou no vulto que jazia no chão oculto pelas sombras.
Ela olhou para o marido, lívida. Sentia em seus pés um líquido quente, viscoso. Ele retribuiu seu olhar balançando ligeiramente a cabeça, numa afirmação. Era tudo, estava feito. Fora real.
Ele levantou-se bruscamente e a abraçou de uma maneira que nunca antes a havia abraçado. Em seguida abriu a porta do quarto e desceu correndo as escadas. Ela olhou mais uma vez para o vulto estendido no chão, sufocou outro soluço e saiu, batendo a porta atrás de si.
Que denso e tenso...
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