...
Certa noite fui abduzida por alienígenas.
Lá estava eu, calmamente fumando um cigarro em minha varanda quando notei algumas luzes piscando ao longe no enevoado céu de São Paulo. Logo pensei ser um relâmpago, mas, bem, relâmpagos são brancos, não púrpuro-berrantes. Talvez fosse um avião. Mas aviões também não tem essa cor. Ou tem?
— Huuuum! — pensei, sorrindo — Quem sabe é uma nave espacial! Seria divertido conversar com uns alienígenas, assim, pra variar... olha, se vocês quiserem vir aqui trocar uma ideia comigo podem vir, viu, eu... — continuei, em voz alta, fazendo uma piada comigo mesma.
Alguns segundos depois, parada em pleno ar na frente da varanda do meu apartamento, havia uma pequena nave verde-limão em formato de ovo, com faróis de cor púrpura berrante e uma pequena janelinha de vidro de onde algumas formas escuras observavam-me com interesse.
Segundos depois, uma dessas formas escuras abaixou o vidro da nave e apontou-me uma pistola cor-de-abóbora cheia de protuberâncias arroxeadas.
Segundos depois, eu estava inconsciente.
Quando finalmente acordei, vi-me deitada num luxuoso canapé vermelho que ficava encostado à parede de um quarto deveras aconchegante onde havia uma lareira, um tapete verde musgo, estantes de livros e música ambiente.
Pisquei os olhos algumas vezes. Aquilo não era possível, eu devia estar sonhando. Ou alucinando. Como eu havia ido parar ali? Por que eu estava ali? Onde, diabos!, era ali?
Levantei-me cautelosamente e, assim que o fiz, as luzes piscaram todas e o quarto se dissolveu como que num caleidoscópio, dando lugar a uma sala de controle tipicamente alienígena com botões tipicamente alienígenas e seres tipicamente alienígenas vestindo gravatas púrpuras tipicamente alienígenas.
- Ok. Não entre em pânico, Carolina, não entre em pânico... - pensei, prestes a, de fato, entrar em pânico.
Eis, então, que um daqueles seres tipicamente alienígenas virou-se vagarosamente em minha direção, abriu sua enorme boca cheia de dentes fosforescentes e disse:
- Ahn... é... a senhorita gostaria de uma xícara de café?
- !!!
Eu fiquei completamente embasbacada. Estava em uma nave alienígena tendo um contato de quarto grau com seres extraterrestres que estranhamente sabiam falar português e tudo o que eles me disseram foi: a senhorita gostaria de uma xícara de café?!
Quem diabos seriam aqueles caras? Por que eles me trouxeram a bordo de sua nave? Onde estariam indo? Como, por Zeus, eles sabiam falar português?
O estranho ser continuava a fitar-me com seus imensos olhos de bolas de tênis. Seu braço seguia estendido em minha direção com uma xícara de porcelana chinesa na mão. Ai, cacete, e agora, o que cargas d'água eu devia fazer?
Resolvi, então, aceitar a oferta, uma vez que, talvez, uma recusa pudesse ser vista como ofensa por parte dos meus anfitriões. Bebi, então, um pequeno gole do líquido preto, rezando por dentro para que aquilo fosse realmente o que conhecemos na Terra como café.
De fato, para minha alegria, era café. E não estava nada mal, na verdade, só ligeiramente morno.
- É... - tentei um contato.
- Silêncio! - disse outro Ser, levantando-se e subindo em um banquinho - Saudações, terráquea - continuou - Leve-nos ao seu líder!
Oi?! Leve-nos ao seu líder?! Pohan, como assim? Essa era realmente a última coisa que eu esperava ouvir de um ser alienígena. Talvez eu estivesse em um filme de ficção científica de quinta categoria e não soubesse ainda. Onde estariam as câmeras?
- Hã... líder...? - balbuciei sem saber o que responder.
- É, mina! Líder! Tá ligada aqueles caras que comandam tudo, que são os reis da parada? Os fodões, saca?
Tive que esperar alguns minutos para digerir aquelas palavras, mais especificamente aquele linguajar. Os etês eram manos, rappers, então. Que coisa. Quem diria.
- Ahm... seguinte, mano... - comecei, tentando entrar no clima - a parada é que não têm líderes nessa joça, tá ligado? A não ser que vocês estejam querendo falar com o presidente dos Estados Unidos, saca, ele não é o fodão, manja, mas sempre acha que é.
- Ah... - os seres ficaram um momento em silêncio, sem saber como continuar.
- É o seguinte, terráquea - começou outro deles - Nós viemos em paz...
- Não, não, NÃO! - gritou o que ainda se encontrava em cima do banquinho - Tá tudo errado, não é desse jeito que se aborda um terráqueo! Vocês não se lembram do filme? Não era nada disso, não! E você, Mano Brown - continuou, virando-se para o que falava com vocabulário rapper mano - Será que dá pra parar de falar como os terráqueos do filme estúpido que você não pára de assistir?
Minha cabeça começou a girar. Só podia estar alucinando. Olhei em volta e notei algumas fitas de vídeo jogadas a um canto, cópias dubladas de filmes B de alienígenas e um ou outro vídeo dos Racionais MC’s e do Marcelo D2.
- Certo, isso explica muita coisa - pensei com meus botões - Os etês viram essas fitas, aprenderam o português de mano e tentaram um contato. Ah, é claro. Plausível. E o fato de que eu devo estar completamente alucinada, doida varrida e variada das idéias também.
Os tais seres com gravatas púrpuras entreolharam-se sem saber o que dizer. Eu estava meio zonza. Pensei então que, se estivesse de fato alucinando, o melhor a se fazer era entrar de cabeça na alucinação e deixar que ela se desgastasse por si própria. Ou não. Acontece que a única coisa que eu sabia naquele momento era que não sabia era de nada e, portanto, resolvi ser muito mais fácil entrar na onda dos etês e deixar para perceber que tinha ficado louca depois de descobrir em que maldita confusão eu havia me metido desta vez.
- Aí, pessoal - comecei, juntando os últimos traços de eloqüência que me haviam restado - E então, o que vocês gostariam de mim, exatamente?
- Ah, puxa, achei que fosse óbvio! - respondeu o ser do alto do banquinho - Queremos analisá-la, estudá-la e catalogá-la como amostra do espécime humano!
Epa. Aquilo definitivamente não era nada bom.
- Oi?! Como assim?! - exclamei, indignada.
- Hã... - começou outro dos seres, visivelmente constrangido - não é isso o que extraterrestres fazem?
Eu senti que não iria aguentar aquilo por muito mais tempo. Havia alguma coisa muito, mas muito errada ali, e não era só a minha cabeça. Será que aqueles seres estariam sofrendo de algum tipo de amnésia?
- Então - eu falei - Na verdade, extraterrestres não fazem nada disso, não... Achei que vocês soubessem, uma vez que vocês mesmos são extraterrestres, que esses filmes que vocês têm assistido são só ficção, sabe? Bobagenzinha pra diversão de final de semana, essas coisas...
- Ah, é mesmo? Puxa, sabe, é que estamos passando por alguns problemas de memória ultimamente, você entende? Não conseguimos nos lembrar direito o que foi que aconteceu, só que estávamos aqui nas proximidades desse planeta azul quando perdemos a memória, e aí para passar o tempo resolvemos arranjar alguma coisa para fazer, sabe, foi quando conseguimos essas fitas, e tal...
- Ah, eu entendo perfeitamente - eu disse - Mas é justamente isso o que os extraterrestres de verdade fazem, sabia? Digo, observar os terráqueos de longe, manter o mínimo contato possível, aprender sobre eles à distância...
- Aí, truta, quer dizer então que a galera aqui tava tudo no caminho certo sem saber, mano! - disse o tal Mano Brown - Curti, mina, tu é firmeza! - e continuou, virando-se para o outro - Aí, acho que é melhor mandar a princesa de volta pra casa, né não, véio?
- Só. Desculpe-nos, terráquea. Fique em paz.
E, no segundo seguinte, eu estava em casa mais uma vez.
...
Fica cantando SOS dá nisso! MC ET seriam bem legais! Bom, se quiser, posso falar com aquela senhora que mantinha relações sexuais com ETs aqui Inháguas, apesa de que estes devem ter achado fitas da Emmanuelle, não dos Racionais e do MArcelo D2 rs
ResponderExcluir