O céu estava cor-de-rosa, dourado, vermelho, violeta, azul, anil.
Um caleidoscópio de imagens invadiu seus olhos, dissolvendo-se num maremoto de formas coloridas.
Ouvia sinos.
Já era noite.
A Lua, crescente e canceriana, observava o mundo com a nostalgia dos Loucos.
O latido longínqüo dos cachorros e o cricilar tímido de alguns grilos eram os únicos sons que se ouvia naquela pequena cidade do interior.
E os sinos.
Os irritantes e insistentes sinos.
A madrugada ia solta.
Ela corria sem rumo pela ruas desertas e esburacadas da cidade, sob o olhar alaranjado e desaprovador das lâmpadas elétricas.
O som dos sinos ficava cada vez maior, as badaladas ecoavam assustadoramente altas em seus ouvidos.
E ela corria.
Começara a chover.
A imagem da grande igreja gótica iluminou seus olhos por alguns instantes. Ela parou.
A água escorria dos seus cabelos, seus sapatos estavam encharcados, ela tremia de frio.
Subiu a escadaria da igreja e abriu com estrondo a grande porta de entrada, quebrando a corrente que a mantinha fechada.
E os sinos, os desesperadores e insistentes sinos, continuavam a tocar.
No dia seguinte, a policia local encontrou a garota no altar da pequena capela da cidade.
Uma poça de sangue a circundava, havia talhos em seus pulsos.
Sua expressão era serena.
E os sinos, os alegres e simpáticos sinos, finalmente pararam de tocar.
...
(Águas de São Pedro, março de 2008)
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