segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Rotina

Cheguei em casa por estes dias e lá estava ela.

Entrou sem pedir licença, sentou-se pesadamente em minha poltrona cor-de-abóbora e acendeu um charuto.

Muito séria e muito sóbria, com sua gravata cor de areia e seu terno de risca de giz muito bem alinhado, observou-me inexpressiva enquanto baforava sua fumaça sem cor.

Era a Rotina, pomposa funcionária pública burocrata, ocupando um espaço que não lhe foi oferecido e pedindo-me gentilmente que lhe oferecesse uma xícara de café descafeinado e sem açúcar.

Tentei persuadi-la educadamente a se levantar, tentei arrancá-la dos meus dias à força.

Nada adiantou.

Lá está ela, ainda, comportadamente sentada em meu sofá psicodélico, fumando charutos sem sabor e remexendo papéis impecavelmente brancos.

Vez ou outra inicia uma quase conversa acerca do clima ou da peculiar situação de se esperar elevadores em companhia de desconhecidos.

Não parece querer se levantar tão cedo.

(Para meu desespero.)

...

3 comentários:

  1. Jogue fora o sofá psicodélico! Quem sabe... Se a rotina não encontrar conforto talvez ela vá embora :-)

    ResponderExcluir
  2. A vilã dos sonhadores que preferem viver a sobreviver...

    ResponderExcluir