sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Epifania Paulistana



Uma tarde, uma cidade, um bairro, uma rua.

Gente, fumaça, barulho, carros, ônibus, caminhões, prédios, pontes, aviões, muro.

Pessoas cabisbaixas isoladas em seus mundos particulares, passadas apreensivas, apressadas; caminhantes tristes, bravos, tímidos, atrasados.

Tudo correndo, correndo, correndo.

Uma escadaria suja, poças líquidas de procedência desconhecida, alguma palavra ilegível pintada na parede.

Cinza, chumbo, asfalto, branco, preto, marrom, amarelado, esverdeado, desbotado, cor-de-rosa-choque.

Cor-de-rosa-choque?

Flores cor-de-rosa chapadas num céu incolor, emolduradas por estruturas acinzentadas, seguras por cordas emborrachadas e observadas por mentalidades metálicas.

Durante uma batida de um coração palpitante, uma explosão de cor em meio ao preto-e-branco-e-cinza-e-bege da sobriedade calculada de uma megalópole super-povoada.

Uma visão única, anormalmente perfeita e perfeitamente anormal, muito movimentada e completamente parada, destoante, deslumbrante, desoladoramente fugaz.

...

Aos olhos dos transeuntes apressados, porém, a epifania caleidoscópica não passava, apenas, de mais um ipê cor-de-rosa florescendo em meio aos prédios e carros e compromissos atrasados da imensidão cinzenta e sempre enlouquecida da minha querida e Desvairada Paulicéia.

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