- Oi.
- E aí?
- Faz tempo que a gente não conversa, né?
- É. Culpa sua. Eu estou sempre por aqui.
- Eu sei. Eu é que muitas vezes não estou.
- Está, sim. Só não percebe. Hoje, você percebeu.
- Percebi. E demais. O grito ainda me está sufocado na garganta.
- É melhor não deixá-lo sair.
- É um sentir como se sentisse todas as coisas do mundo, sabe? Como se por alguns instantes eu me visse amarrada ao Vórtex da Percepção Profunda e à noção do infinito, da verdade absoluta e de toda a minha insignificância diante disso tudo me fosse revelada.
- Sua carta é a da Lua. Sua função é sentir.
- Mas também é pensar.
- É pensar no sentir e sentir no pensar. Daí a originalidade. Daí a contradição.
- Mas eu não quero mais jogar esse jogo de oposições . É dolorido. É trabalhoso. É inútil! Até que ponto isso tudo o que racionalizo sentindo e sinto racionalizando não passa da minha imaginação? Você é apenas a minha imaginação. O que disso tudo seria real, então? O que não seria? O que seria, de fato, o real, se não mera percepção individual ou pura alucinação coletiva?
- Você realmente acha que esses pensamentos vão te levar a alguma conclusão?
- Não, não vão! Mas o que posso fazer, se sinto e penso e sinto o que penso e penso no que sinto dessa forma tão ridiculamente adolescente e ultra-romântica?
- O melhor, por ora, é seguir o fluxo do rio e procurar não se enroscar nas raízes à margem.
- Isso é tudo o que tem pra me dizer?
- O que você acha?
- Desanimador. Esperava mais de você.
- Você faz esse discurso dramático todo como se não sentisse, lá no fundo, um júbilo melancólico e doce, agudo e doentio, enquanto mergulha neste turbilhão de emoções e racionalizações.
- Ah, puxa. Você sabe como me convencer.
- Conheço-lhe melhor do que você mesma.
- Sendo meu subconsciente, eu não esperava menos.
- Desta forma, que tal uma bela bebedeira?
...
:P
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