terça-feira, 31 de julho de 2012

Os Duendes Da Lua, Capítulo III - A Reconciliação

(Primeira parte AQUI e segunda parte AQUI)

Seres Mágicos Primordiais festejando a vitória épica contra os Terríveis
Goblins Ûhrks segundo VISHMARIAH, José Saltimbanco em Breve, ou
nem tanto assim, História das Eras Duendes
- Ed. Nonsëhnse,
Porão Vermelho, 1999 E. H.

Durante a tenebrosa Awû Oöhkumm, ou Era Sombria, Ròhlumm Abdä, Primeiro Goblin Ûhrk, então Imperador Único E Todo Poderoso De Todas As Terras Outrora Pertencentes À Grande Fÿhllirën Em Nome Dos Goblins Oprimidos E Vilipendiados, governava com mão de escamas a maior parte das terras dos antigos povos mágicos primordiais.

Com suas palavras mais doces do que doce de batata doce e seu olhar mais hipnótico do que espirais pretas-e-brancas girando ininterruptamente, o famigerado goblin, após conseguir bravamente que os únicos seres que seriam realmente páreo para ele próprio fossem exilados em outro mundo, conquistou facilmente todos os reinos mágicos mais importantes e submeteu-os à sua ditadura de terror[1].

Enquanto isso, os decadentes duendes da extinta Grande Fÿhllirën, banidos por tempo indeterminado no Satélite Que Refletia A Luz Branca Da Estrela Amarela, ainda abatiam-se uns aos outros desesperadamente no que foi chamada de Sangrenta E Completamente Inútil Guerra Entre Os Dois Clãs.

Por três primaveras lunares o fratricídio durou, até o dia em que os líderes mais sensatos dos Rödhån e dos Köhkånn, durante um embate particularmente ardente em terreno pedregoso, decidiram, em uma epifania propiciada pelo aroma inebriante de algumas ervas presentes no local e queimadas durante a batalha, que talvez fosse melhor - para que não acabassem se tornando os últimos seres de sua própria espécie - resolver as diferenças entre os clãs jogando uma bela partida de bocha[2].

No dia seguinte, quando os duendes Rödhån venceram disputadamente a tal partida, ficou acordado entre os membros de cada um dos dois clãs que todas as terras pertencentes à zona iluminada do satélite seriam de domínio da facção vencedora, enquanto aquelas situadas na zona sombria passariam a pertencer aos Köhkånn.

A Guerra Do Satélite Que Refletia A Luz Branca Da Estrela Amarela finalmente acabara e os Duendes da Lua puderam, enfim, voltar a viver em paz e harmonia uns com os outros.

Na Terra, porém, nada havia mudado. O terrivel Ròhlumm Abdä ainda conservava todo o poderio mágico dos reinos ocidentais e proibia qualquer ser místico de assobiar músicas melodiosas, pular em um pé só ou usar biquínis de bolinhas amarelas.

E desta forma foi por pelo menos mais duas primaveras, até o dia que ficou conhecido como O Dia Em Que Os Espíritos Finalmente Tiraram Suas Bundas Gordas Dos Seus Sofás E Resolveram Fazer Alguma Coisa, quando as Vozes de Energia e os Deuses Telúricos juntaram-se para pedir ajuda aos únicos seres que poderiam de alguma forma derrotar Ròhlumm Abdä e seus mal-cheirosos goblins Ûhrks: os Fÿhllum Röåkhm, ou Duendes da Lua[3].

Com promessas de mundos e fundos, os Espíritos da Terra imploraram aos duendes exilados que intervissem com sua sabedoria milenar naquela horrenda guerra que consumia por completo o pobre planeta Terra.

- Ah, mas não são vocês os tão famosos Espíritos da Terra, autoridades máximas em matéria de magia, energia e arrogância? O que aconteceu com toda aquela prepotência mística, heim? Não conseguem derrotar sozinhos uma merda de um goblin escamoso e fedorento? - perguntou Cëdrykh Munn, O Revoltado, ancião mais velho do Conselho Rödhån e um dos muitos duendes que ainda guardava na memória a vergonha da proscrição.

- Estamos fracos, nobre Cëdrykh. Ròhlumm destruiu nossos bosques sagrados e ergueu templos em nome de seus deuses em seus lugares. A maioria dos Seres Mágicos Primordiais sob influência goblin adora, agora, as Entidades Dos Pântanos Enlameados. Nós fomos deixados de lado.

- Bem-feito para vocês.

- Precisamos de ajuda. A Terra foi lar de vocês um dia, não podem deixá-la perecer desta forma. Em nome dos Dourados Dias Antigos, da Era Colorida Da Harmonia, do Período Em Que Todos Se Amavam, da...

- Puta-que-o-pariu? - cuspiu Cëdrykh.

- Acalme-se, Cëdrikh - interviu Allÿsha Ökhw, governante dos Köhkånn, conhecida nacionalmente pelo poder da diplomacia - Talvez nós possamos ajudar, sim - continuou, dirigindo-se aos Espíritos da Terra - Mas queremos algo em troca. A dor do exílio ainda pulsa nos corações de muitos de nós.

- Sim, obviamente - responderam as Vozes Telúricas e os Espíritos de Energia - Poderão voltar a viver na Terra assim que tudo terminar.

- Voltar para a Terra? Depois de tudo o que fizemos para tornar este lugar horroroso habitável? - desdenhou Cëdrykh - Que tipo de oferta é essa, pelo amor da Entidade Criativa Que Ficou Entediada E Resolveu Criar Coisas Bacanas Do Nada Para Passar O Tempo!

- Terão seus poderes triplicados, e cada um dos indivíduos dos dois clãs receberá um dom especial relacionado ao território em que hoje vivem neste satélite. Terão, ainda, imunidade contra qualquer acusação divina pelo período de cinco anos e permissão para perambular entre as dimensões de tempo e espaço gratuitamente.

- Não vejo nenhuma vantagem em tanto blábláblá burocrático.

- Poderão, também, ter acesso a todo o estoque mundial dos Chocolates Divinos Outrora Reservados Apenas Às Entidades Etéreas.

- Inclusive os meio-amargos com pedacinhos de banana caramelada?

- Inclusive os meio-amargos com pedacinhos de banana caramelada. Fechado?

- Fechado! [4]

Os Fÿhllum Röåkhm formaram, então, um numeroso exército duêndico e teletransportaram-se para a Terra no dia do Solstício de Inverno, enquanto as Vozes Telúricas e os Deuses de Energia depositavam, não sem pesar, em solo lunar, todo o delicioso estoque de Chocolates Divinos Outrora Reservados Apenas Às Entidades Etéreas.

Uma sangrenta peleja épica ocorreu naquele dia, posteriormente conhecida como Peleja Épica E Sangrenta, e os Goblins Ûhkrs estiveram bem próximos da vitória, não fosse a corajosa duende Rowënna Ezpafdha começar a assobiar a antiga Balada De Galahar durante o anoitecer. Tal feito fez com que Ròhlumm Abdä começasse a ter espasmos alucinados de loucura e deixasse o campo de batalha babando e arrancando os cabelos, sendo seguido rapidamente por toda sua horda de goblins mal-cheirosos. O Primeiro Goblin Ûhkr foi posteriormente julgado pelas Altas Entidades e condenado a passar um ano e um dia assobiando músicas melodiosas enquanto pulava em um pé só vestindo um biquíni de bolinhas amarelas[5].

Com a vitória, os Seres Mágicos Primordiais e os Espíritos da Terra puderam, enfim, voltar a viver pacífica e harmoniosamente no planeta Terra e os Fÿhllum Röåkhm, os Duendes da Lua, recuperaram seu prestígio e poder entre os povos, reassumiram seus cargos no Conselho De Segurança Mágica Inter-Temporal e empanturraram-se enjoativamente com todo o Chocolate Divino Outrora Reservado Apenas Às Entidades Etéreas que suas barrigas puderam aguentar.

...

NOTAS:

[1] PACHECO, Salazar Monteÿn & PORLAHZ, Clarabel Ovídia - A Espécie Vilipendiada: os Goblins Ûhrk e suas contribuições para o Reino Mágico - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

[2] ARANDHLEENA, Wenceslau - Sangrenta E Completamente Inútil Guerra Entre Os Dois Clãs: Tudo se resolve com uma partida de bocha - Editora Séria, Lago Queimado, 585 N. E.

[3] TITITHU, Balaléa - Espíritos Da Terra: Poderosas Entidades ou Grandes Bundões? - Editora Céltica, Avalon, 1999 E. H.

[4] Diálogo reconstituído a partir de uma sessão espírita mágica inter-temporal presente em DONNAN, Zavier - Fragmentos Espirituais Das Eras Passadas - Editora Obscura, Lado Negro Da Lua, 2011 E. H.

[5] QUEQUHEHISS, Denise Samaritana - Os Assobios Alucinógenos e a Peleja Épica E Sangrenta - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

...

FIM.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Os Duendes da Lua, Capítulo II - A Grande Migração

(Primeira parte AQUI.)


Aparência Poética De Um Goblin Ûhrk de acordo com
PACHECO, Salazar Monteÿn e PORLAHZ, Clarabel Ovídia.

Ròhlumm Abdä, o Primeiro Goblin Ûhrk, não encontrou dificuldades em aproximar-se de Kashwëhnå, a Estranha. A Rainha Louca postava-se completamente sozinha no alto do Monte Yhr - também chamado de Montículo Onde Os Deuses Cospem Na Cabeça De Seus Fiéis Quando A Nobre Desatinada Entoa Cânticos Alucinados -, vociferando impropérios desesperados em mais um de seus constantes ataques histéricos.

- AHH GRRR OOOOWWWWNNN BRRHHH!!! - bradava a real duenda com os punhos erguidos - BRRRRR VZZZZZZHHH AHHHHHHHHHH!!!

- Rainha Kashwëhnå, divina senhora dos duendes telúricos - chamou Ròhlumm Abdä, em uma charmosa voz, mais doce do que doce de batata doce - Meu nome é Ròhlumm, O Goblin, e fui enviado pelas Divindades Celestiais para aconselhar a Mais Nobre De Todas As Nobres Rainhas Dos Povos Mágicos Primordiais.

- Um Tsoåpêsh!! - gritou a Rainha, arregalando os olhos - Eu não disse? - berrou para alguém que talvez apenas ela própria fosse capaz de enxergar - Esses duendes do Conselho vão ver quem é que é a louca, agora. [1]

De acordo com A Lenda Dos Mil Conselheiros - uma história para crianças muito famosa entre os duendes fÿhllirënianos, que fora inclusive transformada em desenho animado, história em quadrinhos e bonecos articulados -, no Ano Da Grande Navegação, quando Todos Os Problemas Do Universo Deveriam Ser Resolvidos, as Divindades Que Gostam De Controlar As Coisas Por Aqui enviariam à Terra algumas criaturas escolhidas, ou Tsoåpêshes, com o objetivo de aconselhar positivamente os governantes das aglomerações mais influentes entre os Seres Mágicos Primordiais e mostrar o Caminho Único Da Estrada Colorida Para A Verdade Universal[2].

Dizendo-se, assim, um Tsoåpêsh, o maquiavélico goblin Ròhlumm Abdä colocou-se em posição de destaque no Conselho dos Duendes da noite para o dia e utilizou-se de sua forte influência sobre a Rainha Louca para efetivar seu terrível plano de Dominação Goblin de Todas As Terras Mágicas Ocidentais.

Durante aquela primavera, o Primeiro Goblin Ûhrk, com suas palavras revestidas de mel e açúcar, instigou a Rainha Kashwëhnå a fechar as fronteiras de seu reino, impedindo a entrada de qualquer Ser Mágico que não fosse um duende da Grande Fÿhllirën em território fÿhllirëniano, incentivou-a a construir palácios caríssimos e inúteis e destruir, com isso, grande parte das florestas primordiais e aconselhou-a, ainda, a aumentar consideravelmente os impostos sobre o uso da magia e a reprimir qualquer tipo de manifestação contrária por parte do povo[3].

Ao mesmo tempo em que persuadia a rainha a não dar atenção às Vozes Telúricas, aos Deuses de Energia ou a qualquer ser ou entidade que não fosse ele próprio, Ròhlumm Abdä também aproveitava seus poderes hipnóticos para disseminar a discórdia entre o povo duendífico, causando inúmeras querelas entre clãs, desavenças regionais e, até mesmo, sequestros e assassinatos.

A desobediência, por parte dos duendes da Grande Fÿhllirën, das Antigas Leis Mágicas Primordiais - leis estas que, segundo documentos da época[4], seriam regras naturais proferidas pelos próprios Espíritos da Terra e que pregariam, entre outros artigos, a não-agressão a qualquer Ser Mágico Primordial, a proibição de qualquer ato de discriminação por espécie e a influência definitiva dos próprios Espíritos da Terra em qualquer decisão relacionada à situação da vida terrestre - provocou a rápida decadência dos duendes mencionados, com a expulsão dos mesmos do Conselho De Segurança Mágico Inter-Temporal e o pagamento de uma multa de magia exorbitante pelos muitos danos por eles causados às outras espécies primordiais.

O ápice da desestabilização dos duendes do que outrora fora a Grande Fÿhllirën aconteceu no final do verão daquele mesmo ano, quando as disputas fomentadas pelo Primeiro Goblin Ûhrk entre os dois principais clãs fÿhllirënianos, os Rödhån e os Köhkånn, explodiram em uma terrível e sangrenta guerra que dizimou quase dois terços da população duende e desestabilizou o panorama mágico primordial do planeta Terra, fazendo com que os Espíritos da Terra decidissem, por fim, exilar aqueles seres por tempo indeterminado no Satélite Que Refletia A Luz Branca Da Estrela Amarela.

Ròhlumm Abdä conseguira, desta forma, realizar a primeira parte de seu plano ditatorial. Com a desestabilização planetária que se seguiu à Grande Migração Dos Duendes - que desde então passaram a ser chamados de Fÿhllum Röåkhm, ou Duendes da Lua -, declarou-se Imperador Único E Todo-Poderoso De Todas As Terras Outrora Pertencentes À Grande Fÿhllirën Em Nome Dos Goblins Oprimidos E Vilipendiados e deu início ao período a que chamamos de Awû Oöhkumm, ou A Era Sombria[5].

...

NOTAS:

[1] Diálogo reconstituído a partir de uma sessão espírita mágica inter-temporal presente em DONNAN, Zavier - Fragmentos Espirituais Das Eras Passadas - Editora Obscura, Lado Negro Da Lua, 2011 E. H.

[2] LOLLIPOPO, Marieta Emília - Quem Conta Um Conto, Conta Um Duende: Contos e Cantos infantis para se ler antes de dormir - Editora Parquinho Colorido, Öishpallur, 568 N. E.

[3] PACHECO, Salazar Monteÿn & PORLAHZ, Clarabel Ovídia - A Espécie Vilipendiada: os Goblins Ûhrk e suas contribuições para o Reino Mágico - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

[4] DENDORIAN, Gimena Venceslau (org.) - A Estranha Coroada: Compilação de Manuscritos Fÿhllirënianos Da Era Migratória - Ed. Luneta Verde, Bosque Dos Gnomos Cor-de-Abóbora, 666 N. E.

[5] VISHMARIAH, José Saltimbanco - Breve, ou nem tanto assim, História das Eras Duendes - Ed. Nonsëhnse, Porão Vermelho, 1999 E. H.

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(Continua AQUI)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Os Duendes da Lua, Capítulo I: O Início

Espécies Mágicas dos Primórdios da Criação entrando em
contato com as Energias Telúricas durante um Conselho de
Segurança Mágica Inter-Temporal.

Nos primórdios da Criação do Universo, quando a Entidade Criativa Que Ficou Entediada E Resolveu Criar Coisas Bacanas Do Nada Para Passar O Tempo tomava uma xícara de chá gelado com dois cubinhos de açúcar para descansar do Grande Feito Grandioso De Todos Os Feitos, algumas gotas de seu chá divino caíram no planeta que hoje nos acostumamos a chamar de Terra, dando origem às famosas, ou nem tanto assim, Espécies Mágicas Dos Primórdios Da Criação.

De todos os seres pertencentes às Espécies Mágicas Dos Primórdios Da Criação, os mais poderosos eram, sem dúvida, os Duendes da Grande Fÿhllirën e seus charmosos cachos nas orelhas. Esta população vivia calmamente nos bosques temperados da atual Irlanda e possuía o dom de conectar-se intimamente com as Energias Telúricas.

Uma vez que os Espíritos da Terra eram os responsáveis por todo o ciclo de vida do planeta - e, se ficassem entediados ou insatisfeitos poderiam resolver causar um terremoto ou confundir as estações do ano só para se divertirem -, o dom dos simpáticos duendes era de extrema importância durante aquele período. Não era apenas devido aos garbosos cachos que saíam de suas orelhas que aqueles possuíam os mais altos cargos do Conselho De Segurança Mágica Inter-Temporal.

O Conselho de Segurança Mágica Inter-Temporal [CSMIT] era uma organização das Espécies Mágicas Dos Primórdios Da Criação que visava a segurança de todos os Seres Mágicos que vivessem no Planeta Terra ou nas proximidades dele, independentemente de qual Era pertencessem. Nele, discutiam-se projetos sobre os Meios de Transporte Mágico, a Ética do Poder Telepático, a Necessidade De Se Criar Regras Para Os Vôos Noturnos, entre muitos outros, enquanto jogavam bocha e bebiam frappuccinos alcoólicos.[1]

Por três Eras tudo correu na mais perfeita e maçante tranquilidade, até que Kashwëhnå, A Estranha, tornou-se rainha do povo da Grande Fÿhllirën. Documentos encontrados relatam que esta era a duende mais bela e mais charmosa da qual se tem conhecimento, com a pele muito alva, sardas púrpuras nas bochechas e cachos cor-de-abóbora cintilantes saindo das orelhas. Tais documentos nos dizem, ainda, que Kashwëhnå dizia ter tido relações sexuais com a Entidade Criativa Que Ficou Entediada E Resolveu Criar Coisas Bacanas Do Nada Para Passar O Tempo, falava sozinha, tinha visões apocalípticas e babava.
(Dizem também que sua baba era púrpuro-berrante e possuía poderes curativos, mas poucos aventuravam-se a ingerir tal pasta).[2]

A Grande Mudança se deu em um Equinócio de Primavera, quando, durante uma comemoração de mais uma crise histérica e alucinada da Rainha Kashwëhnå, surgiu no horizonte a figura pequena e bizarra de Ròhlumm Abdä, o Primeiro Goblin Ûhrk.

Os Goblins Ûhrk, de acordo com pesquisas recentes [3], foram possivelmente os frutos de cruzamentos incrivelmente férteis dos seres mutantes da antiga raça dos Thünnh Åhmee, os Primeiros Anões, com os exemplares da espécie Qözkåc Yuhmeë, os Seres Reptilianos. Tais Goblins possuíam uma pele escamosa de coloração mutável, dedos longos com unhas afiadas e olhos grandes e amarelos. Da antiga e bela raça dos Thünnh Åhmee sobrara apenas as cintilantes barbas encaracoladas. O principal poder dos Goblins Ûhrk era sua voz macia e venenosa que hipnotizava qualquer ser que tivesse ouvidos para suas palavras.

Ròhlumm Abdä, O Primeiro Goblin Ûhrk, tinha em mente um plano diabólico quando despontou no Reino Da Grande Fÿhllirën: Desestabilizar os poderosos duendes, fazê-los perderem seus poderes telúricos, destituí-los dos cargos que ocupavam no CSMIT e instaurar uma Ditadura Diabólica Em Favor dos Goblins Ûhrk.

E foi justamente com esta intenção que o persuasivo serzinho foi procurar pela Rainha Kashwëhnå, a Estranha.

...

NOTAS:

[1] YOHLËG, Stephan Zinngner - CSMIT: Conselho de Segurança Mágica Inter-Temporal ou Apenas Mais Um Clube De Bocha? - Ed. BoaVentura, Zona Escura Da Lua, 252 N. E.

[2] DENDORIAN, Gimena Venceslau (org.) - A Estranha Coroada: Compilação de Manuscritos Fÿhllirënianos Da Era Migratória - Ed. Luneta Verde, Bosque Dos Gnomos Cor-de-Abóbora, 666 N. E.

[3] PACHECO, Salazar Monteÿn & PORLAHZ, Clarabel Ovídia - A Espécie Vilipendiada: os Goblins Ûhrk e suas contribuições para o Reino Mágico - Editora Nonsëhnse, Porão Vermelho, 2010 E. H.

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(Continua AQUI)

sábado, 21 de julho de 2012

Augusta rua Augusta

Augusta rua Augusta

Dos jardins às praças
Abrigando
Comunistas e reaças
Amando
Amores e ameaças.

Augusta rua Augusta

Dos travestis e dos puteiros
Embriagando
Gerentes e porteiros
Transformando
Calçadas em braseiros.

Augusta rua Augusta

Dos cinemas e botecos
Comungando
Pedreiros e arquitetos
Reclamando
Diversidade a céu aberto.

...

Augusta rua Augusta:
Ferida aberta e não-plana da cidade que não dorme - e não ama.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Uma Conversa Qualquer Comigo Mesma


- Oi.

- E aí?

- Faz tempo que a gente não conversa, né?

- É. Culpa sua. Eu estou sempre por aqui.

- Eu sei. Eu é que muitas vezes não estou.

- Está, sim. Só não percebe. Hoje, você percebeu.

- Percebi. E demais. O grito ainda me está sufocado na garganta.

- É melhor não deixá-lo sair.

- É um sentir como se sentisse todas as coisas do mundo, sabe? Como se por alguns instantes eu me visse amarrada ao Vórtex da Percepção Profunda e à noção do infinito, da verdade absoluta e de toda a minha insignificância diante disso tudo me fosse revelada.

- Sua carta é a da Lua. Sua função é sentir.

- Mas também é pensar.

- É pensar no sentir e sentir no pensar. Daí a originalidade. Daí a contradição.

- Mas eu não quero mais jogar esse jogo de oposições . É dolorido. É trabalhoso. É inútil! Até que ponto isso tudo o que racionalizo sentindo e sinto racionalizando não passa da minha imaginação? Você é apenas a minha imaginação. O que disso tudo seria real, então? O que não seria? O que seria, de fato, o real, se não mera percepção individual ou pura alucinação coletiva?

- Você realmente acha que esses pensamentos vão te levar a alguma conclusão?

- Não, não vão! Mas o que posso fazer, se sinto e penso e sinto o que penso e penso no que sinto dessa forma tão ridiculamente adolescente e ultra-romântica?

- O melhor, por ora, é seguir o fluxo do rio e procurar não se enroscar nas raízes à margem.

- Isso é tudo o que tem pra me dizer?

- O que você acha?

- Desanimador. Esperava mais de você.

- Você faz esse discurso dramático todo como se não sentisse, lá no fundo, um júbilo melancólico e doce, agudo e doentio, enquanto mergulha neste turbilhão de emoções e racionalizações.

- Ah, puxa. Você sabe como me convencer.

- Conheço-lhe melhor do que você mesma.

- Sendo meu subconsciente, eu não esperava menos.

- Desta forma, que tal uma bela bebedeira?

...

:P

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Era uma vez #4

Era uma vez uma bala de iogurte.
Um dia, ela descobriu que tinha intolerância à lactose e morreu engasgada consigo mesma.
Fim.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma vida aos brindes simples das coisas!

Quando você perceber que as únicas coisas que sobraram no seu bolso no fim das contas são um maço de cigarros amassado e duas tampinhas de cerveja, saiba que chegou a hora de voltar a caminhar a esmo pelas ruas e caçar lagartixas psicodélicas.

...

Um feliz aniversário para mim!
(Porque, afinal, hoje é dia de RÓQUE, bebê.)


\m/,

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre Uma Lâmpada Elétrica Particularmente Irritante


Aquela lâmpada elétrica tá olhando pra mim.
Tá, sim. Eu tô vendo. Você não tá? Olha lá!!

Tá toda contentinha, se achando a última bolacha do pacote só porque é elétrica e brilha.
E daí que você brilha, minha filha? O que diabos eu tenho a ver com isso?
Pára de ficar me olhando, porra!
Eu não fiz nada pra você. Não tenho nem ondas elétricas que viram luz passando por mim!
Pára!

Ahh, ó lá, tá apagando!
Ééé, quem é que era a toda-poderosa, mesmo, heim?
Uhh, a lâmpadazinha elétrica já não é mais tão elétrica assim, veja só.


Apagou, mesmo.
Agora acendeu.
Apagou de novo.
Acendeu.
Apagou.
Acendeu.
Apagou.
Acendeu.

Porra, lâmpada, pirou de vez, foi?
Tá achando que é pisca-pisca de Natal?

Pisca...
Pisca...
Pisca...
Pisca...

Epa.
Por quê você tá piscando pra mim desse jeito?
Pára de piscar pra mim, porra!
Tá achando que vai dominar o mundo, enlouquecendo os humanos com esse acende-apaga-acende?
Pára, eu tô mandando!
PÁRA!

*CRASH*

Obrigada.

...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Era uma vez #3

Era uma vez uma princesa presa por ela mesma no alto da torre.
O príncipe encantado que deveria ir salvá-la tomou todas, apaixonou-se pela bruxa malvada e nunca mais apareceu.
A princesa morreu velha, virgem e frustrada.
Fim.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Afirmações


O céu cor-de-laranja é invisível.
Focinhos de porcos não são tomadas.
A sanidade mental não é plausível.
Certas coisas não precisam ser faladas.

Regras existem para serem quebradas.
Jacas deveriam nascer no chão.
Não se pode esconder a mancha com almofadas.
É bem mais divertido andar na contramão.

A vitrine das vaidades está embaçada.
Sempre é tempo de aprender coisas inúteis.
A faxineira anda muito atarefada.
As coisas daquela caixinha são absurdamente fúteis.

As paredes de tijolos estão quebradas.
O teto do castelo tem lascas de vidro.
As cartas do baralho estão todas marcadas.
O sábio da montanha não tem nenhum amigo.

O sino que toca não significa nada.
A velha atrás da porta não é ninguém.
As idéias do seu cérebro são abstratas.
As razões verdadeiras estão no trilho do trem.

Pelo Três Vezes Três e pelas Leis Cósmicas do Universo,
Amém.
(Além).

...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Livre Associação

Carteira, dinheiro, bolso, casaco, moletom, frio, inverno, neve, brancura, alvejante, limpeza, bolhas-de-sabão.
Livre associação?

(Ou não, porque perdi a inspiração.)

...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Procrastinação


Só mais um cigarro.
Eu digo, só mais um.

Cinco minutos.

Espera que já vai.
Um cigarro.

Dez minutos?

Um maço pela metade.
Outro maço cheio.

Meia hora?

Só mais um cigarro.
Eu digo, só mais um.

Só mais um.
Cigarro.

...

Nos dias em que você acorda sem nem ao menos ter dormido, todas as verdades do universo cabem em uma grande e quente xícara de café.


(São Paulo, julho de 2012)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Rato Verde Com Asas (ou Uma História Nonsense Para Passar O Tempo)

"Rato Verde Com Asas Por Ele Mesmo"
Técnica: Mouse Ruim Sobre PaintBrush
Julho de 2012 - Rato Verde Com Asas

Era uma vez um Rato Verde Com Asas.

Um dia, estava o Rato Verde Com Asas voando alegremente pelo campo de girassóis – sim, ratos verdes com asas adoram voar alegremente por campos de girassóis – quando uma Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros surgiu de um buraco no chão e o abocanhou – é, isso; cobras cor-de-rosa com óculos escuros adoram surgir de buracos no chão e abocanhar ratos verdes com asas que voam alegremente por campos de girassóis.

Depois disso, o céu se fechou num maremoto e o Grande Provedor Das Terras Girassoleianas surgiu com seu cajado de pirulito vermelho com listras brancas que é típico do Natal e convidou os seus protegidos girassóis para dançarem Salsa.

Todos os girassóis agradeceram o convite do Grande Provedor Das Terras Girassoleianas e puseram-se a dançar freneticamente; era uma honra para eles dançar salsa com tão ilustre figura.

Nada poderia estragar aquele momento tão lindo e tão particular aos girassóis, a não ser que esta fosse a história do Rato Verde Com Asas e não a dos Girassóis Que Dançam Salsa Com Seu Grande Provedor.

Como é justamente este o presente caso, os Girassóis Dançarinos De Salsa e seu Grande Provedor foram expulsos desta história por furto de papel principal e precisaram arrastar-se pelas sarjetas do universo literário pedindo esmolas em busca de uma nova história barata na qual pudessem se enfiar.

Restituído, desta forma, de seu antigo cargo de Protagonista De História Ruim E Nonsense, o Rato Verde Com Asas pôde continuar tranquilamente a ser quase digerido pela Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros sem maiores interrupções.

E lá estava nosso pobre herói Rato Verde Com Asas quase sendo digerido pela Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros quando, subitamente, ouviu-se um estrondo de trovão e um Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes caiu do céu.

Com tamanho sobressalto, a Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros engasgou-se e teve um terrível acesso de tosse, durante o qual o fabuloso Rato Verde Com Asas aproveitou para bater com força suas asas de rato verde e voar de dentro da barriga cor-de-rosa da cobra de óculos escuros o mais rápido possível.

Em sua afobação para sair da goela da Cobra Cor-De-Rosa Com Óculos Escuros, porém, nosso atrapalhado Rato Verde Com Asas voou direto para a corcova do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes, atingindo-a em cheio com um baque surdo.

E foi então que tudo aconteceu.

A corcova do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes era, na verdade, o botão de acionamento de uma bomba relógio poderosíssima enviada pelo Povo Inimigo Mortal Dos Girassóis Dançarinos De Salsa do planeta Sênmsens Suallgûmm para acabar com o campo de Girassóis Dançarinos De Salsa.

Acontece que, como você deve se lembrar, ou não, os Girassóis Dançarinos De Salsa já haviam sido expulsos desta história nonsense um pouco mais cedo, fazendo com que o Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Na Verdade Era Uma Bomba Relógio, um tanto quanto desapontado, seguisse seu rumo pedindo desculpas à Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros e ao Rato Verde Com Asas por interromper seja lá o que eles estivessem fazendo e fosse explodir sozinho e melancólico num campo de nabos saltitantes.

Depois de toda esta situação complexa e absurda propiciada pelo Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Na Verdade Era Uma Bomba Relógio, O Rato Verde Com Asas acabou se tornando, contra todas as expectativas e apenas para deixar esta história ainda mais nonsense, um grande amigo da Cobra Cor-de-Rosa Com Óculos Escuros.


E os dois, desde então, jogam truco e bebem cerveja todas as quintas-feiras em companhia das Cinzas Chamuscadas Do Camelo Púrpura Que Mascava Chicletes E Um Dia Foi Uma Bomba Relógio e do Grande Provedor Dos Campos Girassoleianos - que, na verdade, não era provedor de girassol coisa nenhuma e estava só fazendo um bico nesta história para pagar a conta de luz atrasada do mês passado.

Fim.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Era uma vez... #2

Era uma vez um duende de barba branca que gostava de fumar charutos.
Um belo dia, ele descobriu que era só a alucinação de um hippie que comia cogumelos e evaporou em uma baforada de lantejoulas.
Fim.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Considerações #2

Observatório Astronômico de Manksaoosin.
Desenhado por Caranguejo Excêntrico durante
alguma aula ruim em setembro de 2009.


Tempo, tempo, tempo.
A lua, fria, brilha branca no céu estrelado e friorento que reflete todo o passado do universo.
Tempo, tempo, tempo.
Os beija-flores senhores das eras esqueceram-se de acertar seus relógios para o horário de verão.
Tempo, tempo, tempo.
Que diabos estou tentando dizer?

...


Você já parou para pensar que tudo o que viveu pode ter sido apenas o sonho alucinado de uma velhinha em coma?
Já parou para refletir que todo o seu passado pode ser simplesmente uma projeção da sua mente perturbada para explicar a discrepância entre as suas sensações físicas imediatas e seu estado de espírito?
Já parou para meditar que um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é a realidade?

...

E, para aqueles que se julgam sábios, a minha mais pura compaixão.
Ou não.
A felicidade é a mais completa forma de dominação.