Eu estava em um foguete espacial em órbita de algum planeta muito próximo de uma estrela muito quente e muito brilhante. Estava quente, absurdamente quente, e as tubulações de ar começavam a derreter. Eu e a tripulação – um homem que se parecia muito com o meu pai, uma garota que poderia ser alguma das minhas duas irmãs ou nenhuma delas e o Spock – precisávamos dar um jeito de pousar a nave em segurança na base que o Império Humano havia construído naquele planeta. Lá haveria ar fresco e bolinhos de chuva para todos.
Depois de algumas manobras conseguimos chegar até a base. Sãos e salvos, mas sem os prometidos bolinhos de chuva, fomos recebidos pelo Major Guia que fora indicado para o posto para resgatar possíveis náufragos espaciais.
O planeta era muito próximo do sol daquele sistema, por isso era quente, apesar da atmosfera ser muito parecida com a da Terra, e só era possível perambular pela superfície durante a noite. Só que, à noite, as terríveis Bestas Aladas, animais nativos parecidos com ptedotáctilos, saíam para caçar. Era muito perigoso. Mas eu queria porque queria passear naquele lugar. Era a primeira vez que eu estava em um planeta diferente da Terra, porra, não podia perder a oportunidade.
O Major Guia me disse que durante o crepúsculo também era possível sair da base, e as Bestas Aladas ainda estariam dormindo, mas eu precisava voltar antes de escurecer por completo. Aquele planeta tinha duas luas que estariam cheias e eu me tornaria um alvo muito fácil.
- Carne humana se tornou uma iguaria entre as Bestas Aladas – ele me confidenciou.
Ao anoitecer eu saí da base. O Major Guia me acompanhou, primeiro à pé, e depois, num salto de imaginação onírica, montado em um bicho do tamanho de um cavalo que era uma mistura de dinossauro bípede com galinha d’Angola. No meio do passeio eu percebi que a gravidade do planeta era diferente, e resolvi tentar voar. Dei três pulinhos – tipo aqueles que a gente dava no jogo do Mario para Nintendo 64 quando ele usava o bonezinho com asas para que ele voasse, lembra? – e comecei a voar. O Major Guia disse que era melhor eu não voar acima das nuvens, porque era onde as Bestas Aladas costumavam ficar.
Só que quando ele disse isso eu já não estava mais ouvindo.
Voei acima das nuvens num céu cor-de-laranja e azul-marinho, a brisa com cheiro de pêssego batendo no rosto e despenteando meus cabelos, toda empolgada porque estava voando sem asas num planeta diferente.
- E dessa vez é de verdade! Nem é sonho!
E então as Bestas Aladas surgiram. Primeiro como sombras nas nuvens, depois como dentes afiados vindo em minha direção.
- Eu te avisei! – disse o Major Guia dando um salto com seu cavalo-dinossauro-galinha e virando ele também uma Besta Alada.
Tentei fugir das feras dando cambalhotas, mas elas estavam muito perto de mim, agora.
- Porra. Alegria de pobre dura pouco, mesmo – pensei.
E acordei. Provavelmente porque fui comida por uma das Bestas Aladas e, como ser digerida pelo estômago de um dinossauro alienígena nunca esteve nos meus planos, meu inconsciente achou melhor me acordar.
...
Acho que ando assistindo muito Doctor Who.