segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ode à Escrita

Palavras.

Letras pretas sobre o branco juntando-se aleatoriamente em conexidades linguísticas.

Frases.

Junções de caracteres em busca de sentidos gramaticais.

Contos (e poemas e romances).

Quebra-cabeças de pensamentos estrelados que não cabem em si mesmos e consolidam-se em constelações mágicas de fragmentos de linguagem.

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Passatempo

É de manhã, faz um lindo Sol lá fora e você encontra-se trancado em um cubículo branco e cinza de frente para um computador.

Deveria estar trabalhando, criando, desenvolvendo qualquer coisa (in)útil para o ainda mais (in)útil mercado de trabalho.

Mas está com preguiça.

Toda a sua capacidade cognitiva está descansando tranquilamente recostada em cadeiras de praia à beira-mar e tomando drinques refrescantes adornados com guarda-chuvinhas coloridos.

E você só poderá juntar-se a ela quando o relógio finalmente marcar seis horas da tarde.

Ainda são onze horas da manhã.

Pois bem.

Como o que não há remédio remediado está, creio que o melhor a se fazer é, então, escrever para passar o tempo.

Sim, isso pode ser algo interessante.

Vamos lá: ferro de passar roupa, tomada, eletricidade, água, tábua.

Tempo se passa com vinco? Ou sem vinco?

Droga, minha mãe sempre me disse que eu precisava aprender a passar roupa, não o tempo.

Uma borrifada d'água aqui, uma dobradinha ali; não deve ser assim tão difícil, afinal.

Só é preciso muito cuidado para não queimar, realmente. Tempo queimado cheira mal, causa estresse e bolhas nos pés.

Lá lá lá, e, voilá!, um tempinho passadinho rapidinho!

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Certo. E que faço eu agora com todo esse tempo que ainda está por passar?

Tenho a impressão de que ele ficaria muitíssimo melhor passado se eu estivesse fazendo qualquer outra coisa que não isto que deveria estar fazendo.

Sim, de fato.

Sinta o gosto dele, realmente está muito mal-passado, você não acha? Está mesmo quase cru, eu diria; veja só todo esse sangue que ainda escorre.

E nem adianta colocá-lo um pouco mais no fogo, tempo mal passado é imutável, permanece assim para toda a eternidade, feito cinza de lembrança.

Para que o tempo fique bem passado é necessário que assim seja desde o início, como você bem deve saber.

Desde o início.

E o quê diabos seria o início?

Bem, imagino que o início do tempo relativo seja relativo, enquanto o início do tempo absoluto é absoluto.

Agora, o que de fato seria tempo, relativo, absoluto e, conseqüentemente, o início, "decifra-me ou te devoro", a resposta para todas as perguntas não passa de um pedaço de queijo suíço com quarenta e dois buracos de diferentes tamanhos. E tamancos brancos. Francos. Aos prantos.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sobre Deus, pelo Velho Eremita da Montanha Azul De Bolinhas Vermelhas

Deus?
Certamente já está na hora de um novo deus tomar o poder.
Claro, nada mais natural.
É assim desde sempre, não é?
Um deus assumindo no lugar do outro, eu quero dizer.
Ciclo natural do Universo, todo mundo sabe disso.
O problema seria se se tentasse recolocar um antigo deus no poder: aí, sim, as coisas poderiam ser bastante catastróficas.
Porque os deuses antigos estão seguramente mortos.
Ou esquecidos.
Ou mais preocupados em encher a cara e jogar pingue-pongue em algum planeta aleatório com uma espécie pseudo-inteligente muito mais interessante do que a humana.
Você não acha?
Pois bem.
Que tal uma partida de bolinhas de gude?

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Uma coisa é você acreditar em algum deus. Outra, é ele acreditar em você.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Vício

(Dedicado a certo moço de cabelos compridos e olhar de escorpião que anda construindo castelos psicodélicos nos meus pensamentos nestes últimos tempos.)

Os copos,
Os corpos,
Os toques.

O pulso.
(Seu pulso.)

Seu rosto,
Seu beijo,
Seu riso.

Você:

Meu vício.

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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Amor



As crianças brincavam no quintal. A menina de maria-chiquinha nos cabelos corria alegremente pela grama, arrastando pelo pulso o menino sorridente da blusa manchada de terra.

Os dois se divertiam como apenas quem consegue encontrar todas as verdades do Universo em um grande pote de sorvete de chocolate consegue se divertir.

Pararam um momento para descansar debaixo de uma árvore, rindo.

- Eu gosto de você, Marcela - disse o menino da blusa manchada de terra para a menina de maria-chiquinha  nos cabelos - Quando eu olho pra você, fico com uma sensação engraçada no peito, como se uma nuvem de floquinhos doces resolvesse envolver meu corpo com pequenas doses brilhantes de alegria de arco-íris.

- Eu também gosto de você, Luís - respondeu a menina de maria-chiquinha nos cabelos para o menino da blusa manchada de terra - Você não se importa em sujar sua blusa de terra, exatamente como eu.

Então abraçaram-se e sorriram e viveram.
(E nunca mais tocaram neste assunto novamente.)

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