É de manhã, faz um lindo Sol lá fora e você encontra-se trancado em um cubículo branco e cinza de frente para um computador.
Deveria estar trabalhando, criando, desenvolvendo qualquer coisa (in)útil para o ainda mais (in)útil mercado de trabalho.
Mas está com preguiça.
Toda a sua capacidade cognitiva está descansando tranquilamente recostada em cadeiras de praia à beira-mar e tomando drinques refrescantes adornados com guarda-chuvinhas coloridos.
E você só poderá juntar-se a ela quando o relógio finalmente marcar seis horas da tarde.
Ainda são onze horas da manhã.
Pois bem.
Como o que não há remédio remediado está, creio que o melhor a se fazer é, então, escrever para passar o tempo.
Sim, isso pode ser algo interessante.
Vamos lá: ferro de passar roupa, tomada, eletricidade, água, tábua.
Tempo se passa com vinco? Ou sem vinco?
Droga, minha mãe sempre me disse que eu precisava aprender a passar roupa, não o tempo.
Uma borrifada d'água aqui, uma dobradinha ali; não deve ser assim tão difícil, afinal.
Só é preciso muito cuidado para não queimar, realmente. Tempo queimado cheira mal, causa estresse e bolhas nos pés.
Lá lá lá, e,
voilá!, um tempinho passadinho rapidinho!
...
Certo. E que faço eu agora com todo esse tempo que ainda está por passar?
Tenho a impressão de que ele ficaria muitíssimo melhor passado se eu estivesse fazendo qualquer outra coisa que não isto que deveria estar fazendo.
Sim, de fato.
Sinta o gosto dele, realmente está muito mal-passado, você não acha? Está mesmo quase cru, eu diria; veja só todo esse sangue que ainda escorre.
E nem adianta colocá-lo um pouco mais no fogo, tempo mal passado é imutável, permanece assim para toda a eternidade, feito cinza de lembrança.
Para que o tempo fique bem passado é necessário que assim seja desde o início, como você bem deve saber.
Desde o início.
E o quê diabos seria o início?
Bem, imagino que o início do tempo relativo seja relativo, enquanto o início do tempo absoluto é absoluto.
Agora, o que de fato seria tempo, relativo, absoluto e, conseqüentemente, o início, "decifra-me ou te devoro", a resposta para todas as perguntas não passa de um pedaço de queijo suíço com quarenta e dois buracos de diferentes tamanhos. E tamancos brancos. Francos. Aos prantos.
...